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quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Heaven's Gate (1980)

"As Portas do Céu" de Michael Cimino com Kris Kristofferson, Isabelle Huppert, John Hurt, Sam Waterston, Jeff Bridges, Brad Dourif, Joseph Cotten, Paul Koslo, Ronnie Hawkins, Richard Masur, Tom Noonan, Caroline Kava, Geoffrey Lewis, Mickey Rourke, Terry O'Quinn, Willem Dafoe & Christopher Walken.

1890. Wyoming. O xerife James Averill (Kris Kristofferson) protege o seu Condado de Johnson dos interesses dos ricos criadores de gado da região que contratam 50 pistoleiros para aniquilarem sumariamente 125 emigrantes eslavos pelas acusações de má conduta, anarquia e roubo, que mais não é que uma desculpa para expulsar quem pretende começar uma nova vida ali. Nathan Champion (Christopher Walken) é um desses contratados, mas começa a por em causa a sua missão quando se apaixona pela prostituta emigrante Ella (Isabelle Huppert), a qual também tem uma ligação com James. Apesar de amigos, o antagonismo dos dois homens irá ser posto à prova quando ambos terão de escolher um lado na sangrenta batalha que ficou conhecida na América como a "Johnson County War"...




A infame terceira longa-metragem do realizador Michael Cimino vindo do "The Deer Hunter" ('78), que arrecadou 5 Oscares da Academia incluindo Melhor Filme e Melhor Realizador e que deu origem a que Cimino tivesse controlo total sobre a concepção do seu próximo filme. 




Kris Kristofferson como o xerife James Averill

"Heaven's Gate" é um épico megalómano escrito e dirigido por Cimino, destruindo o mito do velho Oeste através duma visão cínica e violenta sobre a colonização do Novo Continente.






Querendo um perfeccionismo exacerbado referente à época, como uma espécie de Stanley Kubrick em êxtase, o realizador não se poupou a esforços e dinheiro para adquirir o rigor histórico apresentado no ecrã, incluindo o mandar construir uma cidade geometricamente à medida; 





que certas cenas fossem só filmadas durante a "hora mágica" entre o final da tarde e o início da noite; o de contratar cerca de 2500 extras para os papéis dos emigrantes eslavos e exigir que todos os actores soubessem dançar, andar a cavalo e patinar para a célebre sequência de dança; 




o ter usado verdadeiras entranhas de animais, com certas cenas a resultar em ferimentos e mortes circunstanciais de alguns cavalos, o que levou a diversos protestos e boicotes forçando Hollywood a incutir limites e um maior controlo sobre o uso de animais em filmes. 




Isabelle Huppert como Ella



O resultado final foi um orçamento astronómico que dos 11,6 milhões iniciais ascendeu a mais de 40 milhões de dólares, uma autêntica fortuna para a altura, e após o término da rodagem, 




Christopher Walken como Nathan Champion

Cimino impediu que qualquer representante do Estúdio estivesse presente enquanto editava o filme, para apresentar mais tarde a sua versão de 5 horas e meia de película aos produtores executivos. Só depois de bastante insistência o realizador concordou editá-lo para a versão definitiva que se prolonga por mais de 3 horas e meia. 




"Heaven's Gate" aquando a sua estreia, não só ficou para a história como o western mais caro de sempre, como também um dos maiores fracassos críticos e comerciais que há na memória, levando o Estúdio que o produziu, United Artists a declarar falência, tendo sido adquirido mais tarde pela Metro-Goldwyn Mayer.







Teoricamente, "Heaven's Gate" não é um filme tão mau ao nível da fama que goza, mas é de certo um filme estranho e curioso, fruto de uma visão egocêntrica, mas distorcida e obnóxia do um realizador que, em jeito de metáfora, parece ter visionado um Palácio Celestial (e aqui se faz uma ironia com o paradoxo do título do filme) sem se preocupar em construir os alicerces. 




Richard Masur é Cully

E isto porque o enredo está lá, mas o filme é injectado com tantas pequenas histórias e personagens que em nada se relacionam ou contribuem para a história principal que se torna maioritariamente confuso de se seguir, levando uma eternidade para chegar ao cerne da questão. 





A montagem é sofrível q.b. com imensas cenas completamente desnecessárias que se prolongam para sempre, não fornecendo qualquer interesse à trama ou razões de estarem ali incluídas, destacando-se nesse contexto o prólogo irrelevante que ultrapassa os 40 minutos e o epílogo que parece vindo de um outro filme.





A cinematografia de Vilmos Zsigmond, apesar de todas as críticas menos positivas, é soberba na panorâmica das majestosas paisagens mostradas no filme, 







mas peca pelo excesso de poeiras que parecem inundar cada plano a pedido de Michael Cimino para tornar a experiência mais realista, acabando às vezes por não se conseguir visionar com clareza o que se está a passar no ecrã, bem como o uso exagerado de tons acastanhados na fotografia com súbitas mudanças de côr a meio, tornando-se distractivo e visualmente deselegante. 





Do elenco de luxo convocado para trabalhar com o novo menino-prodígio de Hollywood destaca-se Christopher Walken, vindo do anterior trabalho de Cimino "The Deer Hunter" no qual venceu o Oscar para Melhor Actor Secundário, na pele do assassino a sangue-frio que tem uma súbita mudança de coração. 




John Hurt como Billy Irvine

Walken compôs o seu Nathan Champion o melhor que pode, mediante o incoerente desenvolvimento do personagem descrito no guião. John Hurt podia ter sido completamente omitido do enredo que ninguém daria por falta dele, não por culpa do actor, mas pela irrelevância do seu personagem na trama, 




Jeff Bridges como John H.Bridges


o mesmo para Jeff Bridges que do curto papel inicial e como ex-colaborador de Cimino no sucesso moderado de "Thunderbolt and Lightfoot" ('74), viu as suas cenas serem prolongadas com o realizador a reescreve-las diariamente em rodagem de modo a poder inclui-lo, mesmo não sendo necessária a sua presença de todo.






Isabelle Huppert oferece o lado feminino gracioso (e nudez frontal gratuita) num elenco dominado unicamente por homens, mesmo que seja às vezes tarefa complicada conseguir entender o estrangeirismo nas falas da actriz. 




Mickey Rourke como Nicky Ray



Terry O'Quinn e Willem Dafoe fizeram aqui a sua estreia em cinema com curtíssimos papéis secundários, ao ponto de se o espectador piscar os olhos, perder Dafoe no ecrã. Um jovem Mickey Rourke na sua segunda longa-metragem, interpreta um dos homens de confiança de Champion, aqui na primeira colaboração com quem se tornaria o seu realizador-fétiche e Geoffrey Lewis é divertido como um excêntrico caçador de lobos. 




Sam Waterston como Frank Canton

O nome de Brad Dourif surge em destaque nos créditos iniciais, mas o seu personagem apenas teve direito a um monólogo no III Acto. Sam Waterston está competente como o vil Barão do Gado e para finalizar, Kris Kristofferson como o protagonista falta-lhe ali peso e profundidade na sua interpretação para tornar James Averill um personagem interessante. 







O actor carrega uma expressão estóica pelo filme todo e algum diálogo parece recitado ao acaso sem qualquer tipo de inspiração.








A nível de acção, ora as sequências são emblemáticas como o cerco à cabana de Walken, brilhantemente encenada por Cimino a evocar o cinema de Sam Peckinpah, 








ora são de uma pobreza de direcção que leva o espectador a questionar-se se realmente está a acontecer aquilo no ecrã, como a batalha final entre os assassinos contratados e os emigrantes que parece retirada de uma banda desenhada de "Lucky Luke" ou da paródia ao western "Blazing Saddles" ('74) de Mel Brooks.






Os cenários estão magnificamente detalhados exigindo o trabalho de mais de uma centena de carpinteiros, tendo conquistado a única nomeação da Academia para o filme, a de Melhor Direcção Artística. 





Na parte embaraçosa dos Razzies, foi nomeado para 5 deles, incluindo o de Pior Filme do Ano e Pior Actor para Kris Kristofferson, tendo vencido na categoria de Pior Realizador para Michael Cimino.





Em suma, "Heaven's Gate", nas palavras de um crítico da altura, é uma bela trapalhada de filme, que algures nas profundezas do seu ser reside uma obra-prima que precisaria de ser bem esculpida para ser apreciada em toda a sua magnitude. 





O facto de ter sido editado várias vezes (depois do fracasso em salas, Cimino mandou retirá-lo para editá-lo novamente, desta vez em pouco mais de duas horas, culminando na esperada "morte do artista") piorou ainda mais a credibilidade e aceitação da obra que condenou o seu realizador a um exílio cinematográfico aonde ainda perece mais de 30 anos depois. 





Como curiosidade, várias ideias de Cimino na concepção da história como o uso excessivo de personagens completamente fora e diálogos marcados pela incoerência foram recicladas por Quentin Tarantino para os seus guiões, quem tenha dúvidas dessa influência é só visionar a sequência envolvendo Geoffrey Lewis, Mickey Rourke, Christopher Walken e Isabelle Huppert na cabana de Walken e vejam se não vos faz lembrar de algo...



Género: Western / História / Drama / Romance. 

Fotografia: Côr.

País: E.U.A.

Duração: 219 minutos.

Trailer: http://www.youtube.com/watch?v=YmTI3xYO6mQ

Classificação: 7/10.

Reviewer: @ Nuno Traumas.

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