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sexta-feira, 17 de maio de 2013

Don't Look Now (1973)

"Aquele Inverno em Veneza" de Nicholas Roeg com Julie Christie, Donald Sutherland, Hilary Mason, Clelia Matania, Massimo Serato, Renato Scarpa, Nicholas Salter, Sharon Williams, Adelina Poerio & David Tree.

O casal inglês John (Donald Sutherland) e Laura Baxter (Julie Christie) ainda abatidos pela recente perda da sua filha menor, Christine (Sharon Williams) por afogamento, viajam para Veneza aonde John irá trabalhar na restauração de uma igreja histórica. Enquanto a cidade está de prevenção devido à actuação de um assassino em série, durante um jantar o casal encontra duas irmãs, Wendy (Clelia Matania) e a invisual Heather (Hilary Mason) que é psíquica e insiste ter avistado o espírito da pequena Christine com a capa vermelha com a qual se afogou perto dos pais. A revelação deixa Laura intrigada que a levará a aproximar-se das duas irmãs como forma de ultrapassar a sua perda, ao passo que o céptico John, resiste à ideia da vida no Além. Contudo, ele mesmo parece ter o mesmo dom de Heather, pois começa a experimentar estranhas visões de uma figura diminuta de capa vermelha a andar pelas ruas da cidade, bem como Laura e as irmãs num cortejo fúnebre de gôndola através dos canais...




Thriller psicológico dirigido pelo excêntrico realizador inglês Nicholas Roeg, baseado na novela de Daphne Du Maurier cujas anteriores histórias foram adaptadas ao cinema pelo Mestre Alfred Hitchcock em "Rebecca" ('40) e "The Birds"  ('63). 





"Don't Look Now" é um magnífico delírio visual de surrealismo com a misteriosa cidade de Veneza nos anos 70 como pano de fundo para uma história onde o sobrenatural e o filme policial andam de mãos dadas, piscando o olho ao "giallo" italiano



A tragédia



através de uma atmosfera semelhante aos clássicos de Mario Bava ou Dario Argento, apenas não é considerado como uma obra influente desse sub-género, devido ao facto do realizador e produtores serem ingleses 






Em Veneza

com a actuação de um assassino em série pelos sombrios becos de uma Veneza escassa de transeuntes no pico de um rigoroso Inverno. 









Laura (Julie Christie) & John (Donald Sutherland)



Roeg é um mestre no pormenor com todos os planos de câmara, sequências e situações a contribuírem para a crescente tensão da trama, ao mesmo tempo que cria uma atmosfera arrepiante 







A psíquica Heather (Hilary Mason)



com o auxilio de a excelente cinematografia pálida e delirante que estabelece o tom obscuro e depressivo para a obra. 










Nicholas Roeg desafia assim o cinema de um Stanley Kubrick, mesmo nunca tendo tido a mesma projecção no seu jeito peculiar e teimoso digno de um perfeccionista de criar a disposição perfeita para cada cena, 





premonição...

com os planos de câmara virtuosamente precisos e a direcção certa para cada actor, de modo a fundirem-se na perfeição com o ambiente de paranóia, de mistério e de fronteira entre o real e o irreal expressos magnificamente no filme.










Donald Sutherland e Julie Christie estão muito bem como o casal tentando refazer as suas vidas depois do trágico acidente, 








especialmente Sutherland, o eterno subestimado actor, que com o seu peculiar visual e o seu jeito intenso de representação confirma-se como actor principal aqui, depois do êxito do algo similar em ambiente, "Klute" filmado dois anos antes. 






A infame cena de sexo entre Julie e Donald, que ao longo das décadas deu origem a rumores que não teria sido simulada, pode ser vista como gratuita nos dias de hoje, pois em nada avança a narrativa e pode parecer anti-climático em relação ao conjunto, mas tendo sido filmada no início dos anos 70 em plena era da revolução sexual 





(com obras do cinema erótico desde "Last Tango in Paris" de '72 que teve a atenção da Academia, até ao cinema mais "exploitation" como "Emmanuelle" de '74 a renderem enormes receitas nas bilheteiras), teve mais significado e impacto na altura do que sendo revisto nos dias de hoje.




Serial-Killer à solta



"Don't Look Now" é um filme pesado e não é para todos, podendo ser considerado demasiado artístico com o seu ritmo arrastado e lento, deliberadamente criado, 









concentrado-se mais na criação de um clima de suspense, apoiado nos visuais fotográficos de uma Veneza escura e arrepiante que assombram o espectador, do que em nos oferecer uma obra de entretenimento, 








mas quem for de livre vontade assistir a um filme deste realizador já sabe para o que é que vai. 








O estranho vulto de capa vermelha...



Em suma, uma obra de Nicholas Roeg não é fácil de digerir e apesar de ter inspirado diversos realizadores da "nova vaga" como Steven Spielberg (uma decisão artística do seu "Schindler's List" de '93 foi obviamente retirada daqui), 






O cortejo fúnebre de gôndola



ainda é com muita pena, um director bastante subestimado nos dias de hoje, mas devido ao seu empenho e qualidade de trabalho imortaliza-se nas sombras como um dos melhores artesãos do cinema.

Género: Thriller / Drama / Mistério / Horror.

Fotografia: Côr.

País: Inglaterra / Itália.

Duração: 110 minutos.

Trailer: http://www.youtube.com/watch?v=AUWB-Kw4FiM

Classificação: 9.5/10.

Reviewer: @ Nuno Traumas.





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