O clã Rogers enforcam o rancheiro rival, Ben Caine (Benito Stefanelli) em frente à sua jovem esposa Maria (Michèle Mercier) que ao jurar vingança sobre o corpo do marido, desloca-se a Ghost Town para contratar o pistoleiro Manuel (Robert Hossein), um antigo camarada do defunto, para acabar de vez com o poderio dos Rogers no vale. Ao mesmo tempo, Thomas (Guido Lollobrigida) e Eli Caine (Michael Lemoine), os irmãos de Ben, são procurados pela justiça a soldo dos Rogers e refugiam-se na casa de Maria. Para ganhar a confiança de Will Rogers (Daniele Vargas), Manuel salva o seu estouvado filho Larry (Serge Marquand) da morte certa, sendo de seguida contratado como o novo capataz do Rancho, esperando a oportunidade certa para raptar a única filha do rancheiro, Johanna (Anne-Marie Balin) para que Maria Caine possa ter a sua fria vingança...
Cameo de Benito Stefanelli como Ben Caine |
Intenso e sombrio western spaghetti, escrito, dirigido e interpretado pelo francês Robert Hossein com o auxílio do futuro realizador Dario Argento que colaborou no guião,
Michèle Mercier como Maria Caine |
"Cimitero senza croci" reúne o melhor da "escola" de Sergio Leone, apresentando-nos um lado de entretenimento de acção taciturno de "A Fistful of Dollars" ('64) com o contemplativo e ambiental de "Once Upon a Time in the West" ('68),
recorrendo a um grande trabalho de câmara de Hossein em parceria com o cinematógrafo Henri Persin, repleto de recurso ao zoom e close-ups ao estilo peculiar do Mestre Leone, mas conseguindo manter a sua identidade própria,
contribuindo para isso uma encenação soberba, relativamente ao orçamento e meios envolvidos e uma certa criatividade em algumas sequências inesperadas.
Robert Hossein como Manuel |
A atmosfera do filme é sinistra, envolvente e quase surreal com Hossein a criar habilmente um ambiente tenso de cortar à faca, onde se movem um rol de personagens dúbias pela obsessão de vingança.
A representação do elenco é no geral boa (com uma fria e sensual Michèle Mercier ao jeito de uma vingativa Claudia Cardinale de "Once Upon a Time in the West" a destacar-se), apesar de por vezes cair no exageradamente teatral, roçando no melodramático, mas Hossein na dupla tarefa de realizador e protagonista, criou aqui um dos mais subestimados e complexos anti-heróis de todo o euro-western na pele do pistoleiro Manuel, sujeito a diversos rebates de consciência ao longo da trama.
Amigo pessoal de Sergio Leone que o influenciou a dirigir este seu primeiro western, toda a sequência do jantar no Rancho dos Rogers foi dirigida pelo próprio Mestre, que mesmo não sendo creditado, é notório o seu toque artístico, facilmente reconhecido por qualquer fã do seu trabalho.
Notável a ausência de diálogos em diversas situações-chave para o enredo em que Hossein segue a máxima do "silêncio é de ouro", usando magnificamente a câmara para contar a sua história,
acentuando as expressões e os gestos dos seus actores, não tendo sido preciso recorrer a diálogos gratuitos, um artifício utilizado em diversos outros filmes para explicar o óbvio, tratando assim a sua audiência com maturidade e respeito.
Rodado na habitual Almería na Andalúzia em Espanha, "Cimitero senza croci" beneficia ainda de uma boa direcção artística a nível dos cenários realistas, especialmente da decrepita Ghost Town,
e de uma fantástica sequência de abertura em tonalidade sépia enquanto correm os créditos iniciais, onde se observa um só homem ferido a galope em direcção à sua cabana situada na planície a milhas de distância da cidade, sendo perseguido por uma matilha de pistoleiros enfurecidos preparados para o linchar.
Destaque para uma das melhores e mais assombrosas trilhas sonoras de todo o spaghetti western desde Ennio Morricone, conduzida por André Hossein, pai do realizador, e o memorável tema de abertura que estabelece o tom do filme.
Em suma, "Cimitero senza croci" também conhecido por "Une Corde, un Colt..." ou pelos títulos internacionais de "Cemetery Without Crosses" e "The Rope and the Colt" é, infelizmente, um dos menos conhecidos spaghetti westerns,
mas na certa um dos melhores já feitos, captando com uma vibração única toda a essência do género, tendo-se atrevido a seguir os passos do trágico e elegíaco "Once Upon a Time in the West", quando a maioria das produções italianas da altura preferiram seguir a rota do mais enérgico e ligeiro "The Good, The Bad and The Ugly" ('66).
Anne-Marie Balin como Johanna Rogers |
Altamente recomendado, especialmente para verdadeiros fãs de euro-westerns que passem bem sobre uma boa história, ambiente e visuais, ao invés do foco incidir maioritariamente na acção exacerbada.
Género: Western / Drama.
Fotografia: Côr.
País: Itália / França.
Duração: 90 minutos.
Trailer: http://www.youtube.com/watch?v=ztc2AOKsVx8
Classificação: 9/10.
Reviewer: @ Nuno Traumas.
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