Patricia Carroll (Stefanie Powers), uma americana, chega a Londres para se casar com o amado, Alan Glentower (Maurice Kaufmann), mas antes da boda pretende visitar a Senhora Trefoile (Tallulah Bankhead), a mãe do seu anterior noivo, que morreu num acidente de automóvel. Embrenhando-se pelas estradas, Patricia chega a uma secular e isolada casa nos limites de uma pequena vila do interior onde é fervorosamente recebida pela velha senhora, que a convida a pernoitar para que na manhã seguinte possam ir à missa rezar pela alma do falecido. O que à partida pareceria a Patricia um comportamento excêntrico, porém inofensivo vindo da Senhora Trefoile, depressa se apercebe que está perante uma fanática religiosa que a culpa pelo falecimento do filho, e que com a ajuda do casal Harry (Peter Vaughan) e Anna (Yootha Joyce), os seus caseiros, e o deficiente mental Joseph (Donald Sutherland), a aprisiona no sótão de casa com vista a limpar-lhe a alma dos excessos do mundo exterior. Conseguirá Patricia escapar com vida do seu confinamento?
O estrondoso sucesso mundial do thriller psicológico "Psycho" ('60) de Alfred Hitchcock, inspirou uma série de obras durante os anos 60, lançando as sementes do futuro sub-género "psycho-biddy" que se tornaria popular após o êxito de "Whatever Happened to Baby Jane?" ('62) de Robert Aldrich que juntou as Divas Joan Crawford e Bette Davis.
Alan (Maurice Kaufmann) & Patricia (Stefanie Powers) |
Não ficando alheia ao filão criativo deste novo sub-género de cinema, a Hammer Films resolveu explorá-lo, produzindo uns quantos títulos de suspense, sendo este "Fanatic", estreado nos E.U.A. como "Die! Die! My Darling", um dos seus mais bem conseguidos.
Tallulah Bankhead como a Senhora Trefoile |
No mesmo ano em que Bette Davis, a sua eterna Diva rival da época áurea de Hollywood, protagonizou "The Nanny" também para os Estúdios da Hammer, a veterana actriz Tallulah Bankhead deu vida aqui à fanática religiosa Senhora Trefoile, numa soberba representação tour de force e infelizmente a sua derradeira, pois a actriz viria a falecer cerca de 3 anos depois.
O orçamento é acima da média para uma obra da Hammer Films, sendo visível pela qualidade da direcção artística e dos cenários; a cinematografia em Technicolor de Arthur Ibbetson segue os parâmetros a que o estúdio nos habituou, especialmente no uso das cores quentes ao clássico estilo do horror gótico na iluminação do quarto secreto da Senhora Trefoile
Harry (Peter Vaughan) & Anna (Yootha Joyce) |
e a sólida direcção do canadiano Silvio Narizzano dá-lhe um toque intenso de claustrofobia e paranóia, mas ao mesmo tempo introduz um lado espirituoso e extrovertido que não deixa a obra cair demasiado na seriedade desconfortável em relação ao tema.
O guião de Richard Matheson, uma lenda deste género de cinema de emoções fortes, baseado na novela "Nightmare" de Anne Blaisdell é empolgante e bem estruturado, oferecendo-nos alguns sustos e reviravoltas pelo meio, mas mantendo um certo humor devido ao exagero de todo o enredo e dos seus excêntricos personagens que Narizzano tão bem soube passar para o ecrã.
No capítulo das performances, Stefanie Powers, que voltaria futuramente a colaborar com a Hammer em "Crescendo" ('70), esforça-se para nos entregar uma actuação competente ao contracenar com a lendária actriz de teatro, televisão e cinema,
Tallulah Bankhead, que acaba por roubar para si qualquer cena em que apareça na pele da alucinada e esquizofrénica viúva que não aceitando a morte do único filho, culpa a nora de o ter afastado do aconchego do lar, longe do mundo moderno, iniciando assim um martírio de tortura psicológica sobre ela com vista a expiar-lhe os pecados.
O elenco secundário é bastante bom, com especial destaque para Yootha Joyce como Anna, a fiel caseira da Senhora Trefoile, dividida entre a lealdade à patroa e os actos desprezíveis de maus-tratos à jovem Patricia que lhes são ordenados para executar
e um Donald Sutherland, no seu primeiro papel de destaque, que está notável como o débil mental faz-tudo e facilmente manipulado, mesmo tendo sido menosprezado pelo guião que não deu grande relevância ao seu personagem na trama.
Destaque para a sequência dos créditos iniciais bastante anos 60, destilando kitsch por toda a sua concepção, que simbolicamente nos mostra um gato perseguindo um rato, estabelecendo o ponto de partida para toda a intriga seguinte.
Single da banda de Horror Punk, The Misfits |
A título de curiosidade, a lendária banda de horror punk de Nova Jérsia, The Misfits, conhecida por injectar a velocidade de 3 acordes em riffs de rock'n'roll anos 50, sendo fortemente influenciada pelos ritmos doo wop, inspirou-se neste filme e no seu título para compor o seu sexto single, lançado com êxito em '84.
Em suma, "Die! Die! My Darling!" é um delicioso e efectivo "pequeno" conto arrepiante de horror gótico que encontra o thriller psicológico de traço mais moderno, recheado de excelentes interpretações e um ambiente que agradará a qualquer fã do reportório da Hammer Films.
Algum do humor introduzido poderá parecer fora do lugar em certas partes e o clímax é demasiado previsível e comercial, provavelmente devido à exigência da distribuidora major Columbia Pictures, mas não é isso que retirará "Die! Die! My Darling!" do pódio de um dos melhores do seu sub-género. Recomendado!!
Género: Thriller / Horror.
Fotografia: Côr.
País: Inglaterra.
Duração: 97 minutos.
Movie Clip: http://www.youtube.com/watch?v=6TRNMXrQCUs
Clip The Misfits - Die Die My Darling: http://www.youtube.com/watch?v=s3xzg3iEd2I
Classificação: 9/10.
Reviewer: @ Nuno Traumas.
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