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segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

The Witches a.k.a. The Devil's Own (1966)

"A Face do Demónio" de Cyril Frankel com Joan Fontaine, Kay Walsh, Alec McCowen, Ann Bell, Ingrid Boulting, John Collin, Michele Dotrice, Duncan Lamont, Gwen Ffrangcon-Davies, Martin Stephens & Leonard Rossiter.

A professora Gwen Mayfield (Joan Fontaine) recupera de um esgotamento nervoso, depois de ter sido sujeita a magia negra quando leccionava como missionária em África. Voltando a Inglaterra é contactada pelos filantropos irmãos Alan (Alec McCowen) e Stephanie Bax (Kay Walsh), aceitando o cargo de Directora de uma pequena escola que ambos possuem em Heddaby, um remoto vilarejo rural. O que à partida pareceria uma vida nova e mais descontraída para Gwen, aos poucos esta começa a desconfiar que algo de errado se passa naquela povoação, quando constata que os locais parecem querer afastar a todo o custo os adolescentes Ronnie Dowsett (Martin Stephens) e Linda Rigg (Ingrid Boulting), como se tivessem um destino especial para a jovem virginal. Tudo se complica ainda mais, quando Gwen encontra um boneco sem cabeça, repleto de agulhas espetadas que poderá ter a ver com o misterioso estado de coma em que o jovem Ronnie caiu sem qualquer explicação plausível...




Projecto pessoal da veterana actriz Joan Fontaine, galardoada com um Oscar por "Suspicion" (41) de Alfred Hitchcock e irmã mais nova da também actriz Olivia de Havilland, 







Joan Fontaine como Gwen Mayfield

uma fã incondicional da novela "The Devil's Own" escrita por Norah Lofts, usando o pseudónimo de Peter Curtis, publicada em '60 e adaptada aqui ao grande ecrã pelo lendário guionista e usual colaborador da Hammer Films, Nigel Kneale,







Alan Bax (Alec McCowen)



"The Witches" é uma obra de horror atmosférico encontra o thriller psicológico mais modernista, solidamente filmado em ambiente de desconfiança e paranóia por Cyril Frankel. 









Avó Rigg (Gwen Ffrangcon-Davies)



O guião de Nigel Kneale é bastante inteligente no crescendo da intriga e no clima algo surreal de demência que envolve Heddaby nas interacções dos seus personagens com a forasteira Gwen Mayfield, indicando ao espectador que uma espécie de conspiração sinistra paira sobre a cidade,






mas não divulgando antecipadamente nenhum indicio, deixando o espectador em estado de ansiedade, a que Cyril Frankel corresponde dirigindo de modo firme e claustrofóbico uma intriga coesa ao estilo de uma obra clássica de Hitchcock. 






Stephanie Bax (Kay Walsh)

Arthur Grant, um dos usuais cinematógrafos da Hammer Films, oferece-nos um sublime trabalho de fotografia e iluminação, captando o pitoresco local da remota vila em todo o seu esplendor, a que o formato Technicolor lhe dá uma paleta de cores visualmente impressionante.





Contudo, um enredo deveras promissor acaba por cair por terra no III Acto à beira da tão esperada reviravolta final, quando por motivos de desacordo entre um clímax em tom de sátira saído da criatividade de Kneale 







e uma seriedade total do conjunto pretendida pelos produtores, culmina num realizador dividido entre ambas as visões, a filmar uma anedótica burlesca sequência final que parece pertencer a um outro género de filme. 








Como mentora do projecto e fazendo-se valer do estatuto de actriz vencedora de um Oscar, a câmara quase não larga Joan Fontaine ao longo da trama, aparecendo sempre elegantemente vestida e penteada, 








mas a talentosa actriz é competente o suficiente para carregar o filme nos ombros, entregando-nos uma grande performance como a conturbada professora, vítima da conspiração do meio circundante, que terá de se valer apenas dela própria para decifrar o mistério e salvar a jovem adolescente em apuros. 





No capítulo dos secundários, Kay Walsh destaca-se numa representação plena de auto-confiança na pele da escritora Stephanie Bax, num forte e determinado papel feminino, subtilmente aluindo ao lesbianismo, que acabou por não ser aprofundado na trama devido à censura da altura. 





Todo o culto de bruxaria mostrado no filme, e apesar de possuir algumas semelhanças com a religião neo-pagã Wicca cujas origens remontam a uma Inglaterra de início do século XX, qualquer alusão à mesma foi omitida da obra, apresentado antes como um culto fictício satanista, devido ao filme conter sacrifícios humanos e a produção não querer iniciar uma polémica com os fiéis que poderia originar em processos.





A trilha sonora de Richard Rodney Bennett é assombrosa, jogando com os elementos sobrenaturais da história, juntando os ritos tribais africanos de magia negra durante os créditos iniciais com a espiral de paranóia no seio do vilarejo dedicado ao culto de bruxaria anglo-saxã.






Estreado em '66 com uma morna recepção da parte dos críticos, levando a um desaire de bilheteiras, tornou-se o último grande papel em cinema de Joan Fontaine, cujo objectivo inicial de levar a Hammer a produzir o filme do qual tinha comprado os direitos da novela, era o de reabilitar a sua carreira que se encontrava estagnada.






Em suma, "The Witches" é um inquietante thriller psicológico e de mistério, que apesar de poder desiludir como uma obra de horror tradicional da Hammer Films, consegue ser bem sucedido e cativante quando atinge o tom certo nos sublimes I e II Acto, infelizmente deitado a perder por um obnóxio e, não intencionalmente, hilariante clímax que acaba por comprometer todo o filme.



Género: Thriller / Mistério / Horror. 

Fotografia: Côr.

País: Inglaterra.

Duração: 90 minutos.

Trailer: http://www.youtube.com/watch?v=O8zkH5xJKgY

Classificação: 8/10.

Reviewer: @ Nuno Traumas.



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