A professora Gwen Mayfield (Joan Fontaine) recupera de um esgotamento nervoso, depois de ter sido sujeita a magia negra quando leccionava como missionária em África. Voltando a Inglaterra é contactada pelos filantropos irmãos Alan (Alec McCowen) e Stephanie Bax (Kay Walsh), aceitando o cargo de Directora de uma pequena escola que ambos possuem em Heddaby, um remoto vilarejo rural. O que à partida pareceria uma vida nova e mais descontraída para Gwen, aos poucos esta começa a desconfiar que algo de errado se passa naquela povoação, quando constata que os locais parecem querer afastar a todo o custo os adolescentes Ronnie Dowsett (Martin Stephens) e Linda Rigg (Ingrid Boulting), como se tivessem um destino especial para a jovem virginal. Tudo se complica ainda mais, quando Gwen encontra um boneco sem cabeça, repleto de agulhas espetadas que poderá ter a ver com o misterioso estado de coma em que o jovem Ronnie caiu sem qualquer explicação plausível...
Projecto pessoal da veterana actriz Joan Fontaine, galardoada com um Oscar por "Suspicion" (41) de Alfred Hitchcock e irmã mais nova da também actriz Olivia de Havilland,
Joan Fontaine como Gwen Mayfield |
uma fã incondicional da novela "The Devil's Own" escrita por Norah Lofts, usando o pseudónimo de Peter Curtis, publicada em '60 e adaptada aqui ao grande ecrã pelo lendário guionista e usual colaborador da Hammer Films, Nigel Kneale,
Alan Bax (Alec McCowen) |
"The Witches" é uma obra de horror atmosférico encontra o thriller psicológico mais modernista, solidamente filmado em ambiente de desconfiança e paranóia por Cyril Frankel.
Avó Rigg (Gwen Ffrangcon-Davies) |
O guião de Nigel Kneale é bastante inteligente no crescendo da intriga e no clima algo surreal de demência que envolve Heddaby nas interacções dos seus personagens com a forasteira Gwen Mayfield, indicando ao espectador que uma espécie de conspiração sinistra paira sobre a cidade,
mas não divulgando antecipadamente nenhum indicio, deixando o espectador em estado de ansiedade, a que Cyril Frankel corresponde dirigindo de modo firme e claustrofóbico uma intriga coesa ao estilo de uma obra clássica de Hitchcock.
Stephanie Bax (Kay Walsh) |
Arthur Grant, um dos usuais cinematógrafos da Hammer Films, oferece-nos um sublime trabalho de fotografia e iluminação, captando o pitoresco local da remota vila em todo o seu esplendor, a que o formato Technicolor lhe dá uma paleta de cores visualmente impressionante.
Contudo, um enredo deveras promissor acaba por cair por terra no III Acto à beira da tão esperada reviravolta final, quando por motivos de desacordo entre um clímax em tom de sátira saído da criatividade de Kneale
e uma seriedade total do conjunto pretendida pelos produtores, culmina num realizador dividido entre ambas as visões, a filmar uma anedótica burlesca sequência final que parece pertencer a um outro género de filme.
Como mentora do projecto e fazendo-se valer do estatuto de actriz vencedora de um Oscar, a câmara quase não larga Joan Fontaine ao longo da trama, aparecendo sempre elegantemente vestida e penteada,
mas a talentosa actriz é competente o suficiente para carregar o filme nos ombros, entregando-nos uma grande performance como a conturbada professora, vítima da conspiração do meio circundante, que terá de se valer apenas dela própria para decifrar o mistério e salvar a jovem adolescente em apuros.
No capítulo dos secundários, Kay Walsh destaca-se numa representação plena de auto-confiança na pele da escritora Stephanie Bax, num forte e determinado papel feminino, subtilmente aluindo ao lesbianismo, que acabou por não ser aprofundado na trama devido à censura da altura.
Todo o culto de bruxaria mostrado no filme, e apesar de possuir algumas semelhanças com a religião neo-pagã Wicca cujas origens remontam a uma Inglaterra de início do século XX, qualquer alusão à mesma foi omitida da obra, apresentado antes como um culto fictício satanista, devido ao filme conter sacrifícios humanos e a produção não querer iniciar uma polémica com os fiéis que poderia originar em processos.
A trilha sonora de Richard Rodney Bennett é assombrosa, jogando com os elementos sobrenaturais da história, juntando os ritos tribais africanos de magia negra durante os créditos iniciais com a espiral de paranóia no seio do vilarejo dedicado ao culto de bruxaria anglo-saxã.
Estreado em '66 com uma morna recepção da parte dos críticos, levando a um desaire de bilheteiras, tornou-se o último grande papel em cinema de Joan Fontaine, cujo objectivo inicial de levar a Hammer a produzir o filme do qual tinha comprado os direitos da novela, era o de reabilitar a sua carreira que se encontrava estagnada.
Em suma, "The Witches" é um inquietante thriller psicológico e de mistério, que apesar de poder desiludir como uma obra de horror tradicional da Hammer Films, consegue ser bem sucedido e cativante quando atinge o tom certo nos sublimes I e II Acto, infelizmente deitado a perder por um obnóxio e, não intencionalmente, hilariante clímax que acaba por comprometer todo o filme.
Género: Thriller / Mistério / Horror.
Fotografia: Côr.
País: Inglaterra.
Duração: 90 minutos.
Trailer: http://www.youtube.com/watch?v=O8zkH5xJKgY
Classificação: 8/10.
Reviewer: @ Nuno Traumas.
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