Ricardo Coração-de-Leão (Norman Wooland), Rei de Inglaterra, desaparece enquanto regressava das Cruzadas na Terra Santa. Um dos seus mais fiéis cavaleiros, o saxão Wilfred of Ivanhoe (Robert Taylor) empreende numa demanda em busca do seu Rei, encontrando-o prisioneiro do Rei Leopoldo da Áustria que pede como resgate 150 mil marcos em prata. O irmão mais novo de Ricardo, o ignóbil Príncipe João Sem-Terra (Guy Rolfe), vê daí uma oportunidade para afastá-lo, conspirando com certos cavaleiros Normandos para obter o trono de Inglaterra. Regressado ao lar, Ivanhoe reúne-se com a sua prometida Lady Rowena (Joan Fontaine), ao mesmo tempo que tenta se reconciliar com o pai, Sir Cedric (Finlay Currie) que se recusa a ajudá-lo a reunir o resgate. Na mesma noite, mais dois grupos pernoitam na casa de Cedric, o Saxão: os Normandos leais a João, Sir Hugh De Bracy (Robert Douglas) e De Bois-Guilbert (George Sanders), que pedem guarida mesmo sendo de facções diferentes e um velho judeu Isaac of York (Felix Aylmer) que Ivanhoe acaba por salvar de um ataque dos Normandos. Ficando-lhe em dívida, Isaac compromete-se a reunir a soma que permitirá a Ivanhoe resgatar Ricardo, não esperando que a sua bela filha, Rebecca (Elizabeth Taylor) se comece a apaixonar pelo vingador do Rei...
Clássico de capa e espada da época áurea de Hollywood, produzido por Pandro S.Berman para a Metro-Goldwyn Mayer, baseado no romance do escritor escocês Sir Walter Scott, inspirado em factos verídicos e publicado em 1820, dirigido pelo veterano Richard Thorpe
Robert Taylor como Sir Wilfred of Ivanhoe |
e o primeiro de 3 filmes protagonizados pelo galã residente da Meca do Cinema desde os anos 30, Robert Taylor, que deu origem a uma trilogia não oficial de películas baseadas numa temática similar, sendo os posteriores "Knights of the Round Table" ('53) e "The Adventures of Quentin Durward" ('55) que acabaram por não obter o mesmo sucesso crítico e comercial do antecessor.
"Ivanhoe" é assim um esplêndido romance de aventuras situado na Inglaterra medieval, usufruindo de uma soberba cinematografia em Technicolor de Freddie Young, nomeado para 1 Oscar
Joan Fontaine como Lady Rowena |
e uma magistral direcção artística a nível de cenários e guarda-roupa que enriquecem a grandiosidade desta obra a nível de reconstituição de época, resultando em pura magia do cinema transposta do ecrã.
A direcção de Thorpe, filmando um guião conjunto da contribuição de vários argumentistas (incluindo Marguerite Roberts, que durante as filmagens teve de responder perante o comité presidido pelo Senador Joseph McCarhy na célebre "Caça às Bruxas" e ao negar-se a divulgar nomes sobre potenciais comunistas em Hollywood, entrou para a "lista negra" e viu o seu nome ser omitido dos créditos deste filme)
Sir Cedric, o Saxão (Finlay Currie) |
é prodigiosa e dinâmica nas fantásticas sequências de acção, especialmente no torneio em que Ivanhoe desafia os 5 cavaleiros normandos ou o ataque ao castelo de Front de Boeuf, um espectáculo visual de encenação, recorrendo a fantásticas proezas de duplos
Elizabeth Taylor como Rebecca de York |
e eficazmente mais sombria do que se poderia esperar, mantendo a obra num ritmo empolgante constante, envolvida em seriedade na narrativa, recusando-se assim a seguir o caminho extrovertido e humorístico presente no antecessor semelhante em temática, "The Adventures of Robin Hood" ('39).
A portentosa trilha sonora do grandioso Maestro Miklós Rózsa, nomeado para 1 Oscar, é melodramática, épica e fascinante o suficiente para nos transportar ao Mundo de Ivanhoe, dos cavaleiros de armaduras reluzentes e das donzelas em apuros, fundindo-se de modo perfeito com a acção na tela.
O elenco é fabuloso e uma das grandes mais-valias do filme: de um sóbrio, vigoroso e galante Robert Taylor na pele do obstinado e duro vingador do Rei
a uma bastante jovem Elizabeth Taylor, aqui no seu auge de beleza e magnetismo, e tal como a sua personagem Rebecca de York é acusada no filme, acaba por nos enfeitiçar por completo,
George Sanders como De Bois-Guilbert |
passando pelo vencedor de 1 Oscar para Melhor Actor Secundário por "All About Eve" ('50), George Sanders, numa performance memorável como De Bois-Guilbert, dividido entre a honra de um cavaleiro normando, ao ódio que sente pelo seu antagonista saxão que acaba piorando quando se apaixona por Rebecca e vê o seu amor não correspondido por a mesma amar Ivanhoe
e Joan Fontaine, vencedora de 1 Oscar por "Rebecca" ('40) é o epítome do charme e da elegância numa interpretação subtil, mas plena de emoção como Lady Rowena, a prometida de Ivanhoe.
A título de curiosidade, Joan Fontaine, interpreta aqui uma personagem na senda da que a irmã mais velha, Olivia de Havilland, nos entregou como a donzela Marian, a amada de Errol Flynn no já citado "The Adventures of Robin Hood" de Michael Curtiz e William Keighley.
Guy Rolfe como o Príncipe João Sem-Terra |
Os secundários são de peso e embora não roubando o foco ao quarteto protagonista, impõem-se de modo memorável na trama, destacando-se o eterno vilão Robert Douglas como o vil e mesquinho Sir Hugh De Bracy e Guy Rolfe, o fuinha e ignóbil Príncipe João, que foi a base de inspiração para o personagem do clássico de animação da Disney "Robin Hood" estreado em '73, sendo uma das melhores rendições do personagem de sempre no cinema.
Um dos aspectos mais interessantes de "Ivanhoe" para além da cativante narrativa e do emocionante ritmo que arrebata por completo o espectador, são as diversas pequenas histórias presentes que ligam emocionalmente, seja através do amor ou do ódio, todos os personagens da trama.
A eterna frustração do amor não correspondido ou a angústia de amar a pessoa errada, eficazmente vincado no enredo, continua tão actual nos dias de hoje, como em '52 na altura em que foi produzido, tornando "Ivanhoe" uma obra de época intemporal e aprazível para todas as gerações.
Em suma, "Ivanhoe", que também recebeu a nomeação ao Oscar para Melhor Filme do Ano, é uma das melhores obras dentro do género, ideal para apreciadores de clássicos de capa e espada de outrora em que se conseguia produzir uma obra de época, sem recorrer ao uso farto (e muitas vezes desnecessário) dos efeitos especiais.
O guião é inteligente; a acção empolgante; a música arrebatadora; as performances de topo e sobretudo, Elizabeth Taylor consagra-se aqui como uma das mais belas, sensuais e hipnóticas actrizes saídas da década de 50, sendo difícil desviar os olhos da actriz quando esta surge em close-up no ecrã com todo o seu esplendor...
Género: Aventura / Drama / Romance / Histórico.
Fotografia: Côr.
País: E.U.A.
Duração: 106 minutos.
Trailer: http://www.youtube.com/watch?v=ngn-GvqXIc8
Classificação: 10/10.
Reviewer: @ Nuno Traumas.