A repórter Fran Hudson (Lisa Blount) e o seu operador de câmara, Mark Ludman (Leonard Mann) aventuram-se para o meio da selva da Amazónia em busca de Tommy (William Aames), o filho de um milionário produtor de televisão, Bob Allo (Richard Bright), desaparecido há anos quando se juntou a um Culto isolado do mundo exterior. A pista de ambos reside num traficante de droga, o enigmático Coronel Horne (Richard Lynch) conhecido pelo "Fantasma" que dirige campos de ópio camuflados na intensa vegetação. Mas o que irão encontrar é uma guerra pela droga em que Quecho (Michael Berryman), lidera um grupo de nativos selvagens dispostos a massacrarem tudo e todos, sem dó nem piedade pondo as vidas da equipe de T.V. em risco...
Quecho (Michael Berryman) |
Terceira parte da trilogia canibal de Ruggero Deodato iniciada em '77 com "The Last Cannibal World" e cuja infame, e bastante bem sucedida financeiramente, sequela "Cannibal Holocaust" ('80) levou o realizador ao banco dos réus, devido às cenas algo extremas do filme terem sido confundidas com realidade
Mark (Leonard Mann) & Fran (Lisa Blount) |
tendo o mesmo tido que provar em tribunal ter sido tudo encenação, "Inferno in diretta" que recebeu o título internacional inglês de "Cut and Run", mostra um Deodato mais "soft" e moderado, sem que por isso a sua algo cruel assinatura de um visual dantesco e horripilante não esteja presente.
Baseado num argumento de Wes Craven, "Marimba" que não chegou a ter luz-verde, acabando reciclado pelos produtores e trabalhado por 2 argumentistas italianos e depois de Deodato declinar uma sequela directa a "Cannibal Holocaust",
"Cut and Run" foi o resultado final e apesar de ser referenciado como parte da trilogia canibal, é uma versão mais hollywoodesca dos dois primeiros filmes, com um elenco já maioritariamente americano e filmado quase na totalidade em inglês e muito mais "cheesy" em vez do choque visual característico do seu cinema.
Parte da história poderá fazer lembrar "The Emerald Forest" dirigido por John Boorman 1 ano antes, assim como o clássico "Apocalypse Now" ('79) e a inclusão do actor albino Michael Berryman, roubado a Wes Craven pisca o olho a "The Hills Have Eyes"
enquanto o estilo italiano "exploitation" de filme-choque do realizador, desta vez em formato de aventuras, comanda o ecrã enquanto seguimos a equipe de T.V. no meio da selva em fuga de um grupo pouco amistoso de nativos que massacra todos os que encontra.
O argumento não tem grande lógica, nem nos é explicado a origem do personagem Quecho, interpretado por Berryman, como comanda o grupo de canibais ou o porquê dos ataques brutais aos acampamentos, funcionando como desculpa para a inclusão de canibais no filme por ordem da produção
Vlado (John Steiner) |
e motivo para cenas de violência explícita num grande trabalho da equipe de efeitos especiais e caracterização, especialmente numa cena brutalmente encenada que colhe a vida ao actor John Steiner no meio da selva
Ana (Valentina Forte) |
e as habituais cenas de nudez e sexo atiradas lá para o meio no pleno uso da bela actriz italiana Valentina Forte.
Coronel Horne (Richard Lynch) |
Contando ainda com o excelente Richard Lynch, conhecido pela nemesis de Chuck Norris no clássico "Invasion U.S.A." ('85), um actor que poderia ter chegado longe se não se tivesse imolado num protesto durante os anos 70 numa altura em que era dependente de drogas, estragando-lhe por completo o visual e só encontrando trabalho como vilão em filmes de segunda categoria;
as malogradas Lisa Blount, vinda de "An Officer and a Gentleman" ('82) e futura protagonista do filme-de-culto de John Carpenter, "Prince of Darkness" ('87) e a veterana do género Karen Black ("Trilogy of Terror" de '75) num pequeno cameo que em nada avança a trama excepto dar o "star power" ao elenco;
Tommy (Willie Aames) |
a estrela adolescente Willie Aames; Richard Bright, que reza a lenda passou a rodagem alcoolizado e em algumas cenas é notório
Fargas (Eric La Salle) |
e um Eriq La Salle (futuro actor da conhecida série "ER" de '94) em início de carreira interpretando um chulo de bom coração de nome Fargas.
Em suma, "Cut and Run" é cinema "trash" italiano para fãs do género e mesmo não chegando à qualidade de um "Cannibal Holocaust" é mesmo assim bastante superior aos filmes de finais de 80 de Deodato como "The Barbarians" ('87), um rip-off da franchise "Conan" que já entra demasiado na comédia arlequinada (embora seja um delírio do "tão mau que se torna bom" de seguir).
Goste-se ou não do seu género de cinema, Ruggero Deodato deixou o seu nome para a história do mesmo, através da sua direcção cruel sempre no limite, as suas sequências extremas de mau-gosto (criticado por alguns, amado por outros)
e a sua visão dantesca do Mundo, dirigindo os seus filmes como se de um pesadelo em forma de ópera de destruição se tratassem.
"Cut and Run" é como um Deodato açaimado, mas mesmo assim vale a pena o visionamento, aconselhado apenas a fãs do cinema "exploitation" e que já tenham passado pelos seus anteriores trabalhos, para um espectador incauto este filme poderá conter cenas chocantes que podem ferir a sensibilidade do mesmo...
Género: Aventura / Horror.
Fotografia: Côr.
País: Itália / E.U.A.
Duração: 90 minutos.
Trailer: http://www.youtube.com/watch?v=oUaP8hRFTRc
Classificação: 6.5/10.
Reviewer: @ Nuno Traumas.
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