Séc.XIX. Durante os tempos que antecederam a Revolução Francesa, a crise assolava as ruas da cidade e muitos homens honestos sem trabalho viravam-se para a criminalidade na ânsia de alimentar as famílias famintas. Jean Valjean (Richard Jordan), condenado a 5 anos na Penitenciária de Toulon por roubar um pão para os 7 filhos da irmã, tenta por diversas vezes escapar levando várias sentenças adicionais, tornando-se o alvo preferencial do radical guarda da prisão Javert (Anthony Perkins). 19 anos depois e quando finalmente consegue fugir, Valjean pede asilo ao Bispo Myriel (Claude Dauphin), roubando-lhe o serviço de mesa de prata, mas quando é capturado e o Bispo lhe mostra misericórdia, isso encoraja-o a tornar-se um novo homem. Anos depois Valjean é agora o bondoso Monsieur Madeleine, Presidente da Câmara de uma pequena cidade que prosperou devido às técnicas de manufactura introduzidas por ele, sendo o abastado proprietário de 2 fábricas. Tudo muda com a chegada de Javert como o novo Inspector da Polícia local, que julga reconhecer Madeleine como o prisioneiro que lhe escapou anos antes.
Richard Jordan como Jean Valjean |
Ao mesmo tempo, Valjean torna-se protector da ex-prostituta moribunda Fantine (Angela Pleasence), que lhe pede como último desejo que este resgate a sua pequena filha Cosette das mãos do ganancioso Thénardier (Ian Holm) e a mulher. Quando Javert lhe diz que Jean Valjean foi capturado e encontra-se a ser julgado numa cidade vizinha, Monsieur Madeleine não permite que outro homem seja sentenciado inocentemente e entrega-se para gáudio do fanático polícia, mas consegue escapar, resgatando a pequenina pelo caminho e refugiam-se em Paris num Convento durante anos até Cosette (Caroline Langrishe) atingir a maioridade.
Anthony Perkins como Inspector Javert |
Tudo se complica quando esta se apaixona por um jovem revolucionário Marius (Christopher Guard), neto de um abastado aristocrata Gillenormand (John Gielgud), acabando por se expor perigosamente ao mundo exterior, pois a sombra de Javert na sua demanda fanática pela captura do foragido Jean Valjean ainda permanece desde há décadas...
Telefilme de '78 produzido para a televisão britânica por Sir Lew Grade, baseado no romance homónimo de Victor Hugo, considerado um dos melhores do séc.XIX, "Les Misérables" é uma das melhores adaptações para o grande ecrã, sobretudo pela extraordinária performance de Anthony Perkins como o Inspector Javert e o desempenho humano e sôfrego de Richard Jordan, aqui no papel da sua carreira, como o foragido Jean Valjean.
A tarefa de adaptar um extenso romance para o grande ecrã é sempre difícil, e esta versão, assim como qualquer uma das outras, acaba por omitir certas situações e personagens por questões de tempo, mas estranhamente opta por acrescentar toda a história passada de Jean Valjean na prisão de Toulon, que é somente referida em flashback no livro.
A opção do argumentista John Gay e do director Glenn Jordan de o fazerem foi tornar a rivalidade entre os dois antagonistas ainda maior, num crescendo de vários sentimentos mistos até ao culminar do confronto entre ambos no clímax do filme.
Devido a isso, muitas partes do romance são negligenciadas, com Fantine e os Thénardier a terem escassos minutos em cena; os personagens Eponine e Petit-Gervais a serem omitidos da obra e o personagem de John Gielgud a ser completamente escusado, entre outros pormenores, em prol do foco da rivalidade entre o caçador e a presa.
A nível de reconstituição de época, "Les Misérables" cumpre num orçamento acima da média para um filme feito para televisão, apenas pecando na parte da caracterização que acaba por ter um visual demasiado barato em relação a tudo o resto.
Fantine (Angela Pleasence) |
O elenco é no geral competente, embora alguns actores atinjam o exagero que roça o caricatural: Angela Pleasence como Fantine e noutros o amadorismo é evidente: Christopher Guard como Marius, mas com o subestimado Anthony Perkins no comando como o radical Javert, a obra transcende a outro nível de qualidade.
Mestre na subtileza e no auto-controlo, porém mais efectivo do que muitos, Perkins usa o lado real da sua homossexualidade reprimida na sua demanda pela captura de Valjean, num misto de respeito, amor e ódio que sente pelo seu oponente. Javert de Anthony Perkins se comparado com Geoffrey Rush da versão de '98 não é maligno, mas sim alguém que sofreu quando era novo, filho de pais criminosos dos quais sente vergonha e cresceu para ser um cumpridor da lei, levando tão a sério a sua crença que violá-la é como um atentado à sua honra.
Richard Jordan, embora menos bem, é mesmo assim um competente Jean Valjean emitindo no seu desempenho uma personalidade de orgulho e contenção face à adversidade.
Em suma, "Les Misérables" é um bom filme a seguir para fãs da obra de Victor Hugo, por vezes certas transições de cenas podem fugir ao rigor histórico devido ao limitado orçamento de um filme exclusivo para televisão
Cosette (Caroline Langrishe) |
e os restantes personagens exceptuando Valjean e Javert carecem do desenvolvimento necessário para enriquecerem o enredo, mas é mesmo assim uma viagem emocionante às ruas de França do período pré-Revolução mantendo o espectador interessado.
Gavroche (Dexter Fletcher) |
Como nota de rodapé, esta versão é bastante melhor do que o musical repleto de estrelas estreado em '12 e que conquistou 3 Oscares da Academia.
Género: Drama / Histórico.
Fotografia: Côr.
País: Inglaterra.
Duração: 150 minutos.
Trailer: http://www.youtube.com/watch?v=qO_rw4fRQLA
Classificação: 8/10.
Reviewer: @ Nuno Traumas.
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