Londres. Era Vitoriana. Quando Sir Charles of Baskerville morre repentinamente em circunstâncias estranhas, o seu sobrinho e herdeiro Sir Henry (Christopher Lee) regressa de Joanesburgo para tomar posse da Mansão. O Dr.Mortimer (Francis De Wolff), um velho amigo da família, preocupado com a segurança de Sir Henry contacta o melhor detective de Inglaterra, Sherlock Holmes (Peter Cushing) e o seu fiel parceiro Dr.Watson (André Morell), contando-lhes a arrepiante lenda envolvendo um cruel antepassado da família, Sir Hugo (David Oxley) assassinado durante a noite por um enorme cão fantasmagórico, na charneca perto da propriedade dos Baskervilles e que desde aí se acredita ter lançado uma terrível maldição sobre a família. Intrigado, Holmes aceita o caso, pois mesmo não acreditando no folclore local, crê que a vida de Sir Henry poderá estar em perigo eminente. Confiante no cepticismo e usando o seu grande poder de dedução, Sherlock Holmes irá deslindar um dos casos mais misteriosos e perigosos da sua carreira...
Produzido pela britânica Hammer Films e realizado por um dos seus colaboradores habituais, Terence Fisher ("Dracula" de '58 e "The Mummy" de '59) dirigindo os notáveis Peter Cushing e Christopher Lee para sempre associados à produtora, "The Hound of the Baskervilles" é uma obra de mistério e horror gótico baseado no clássico da literatura homónimo escrito por Sir Arthur Conan Doyle, sendo a terceira novela sobre o personagem Sherlock Holmes, o mais famoso detective do mundo.
Seguindo um caminho algo diferente da primeira adaptação da história para o cinema, estreada em '39, esta versão da Hammer e a primeira a cores, é um excelente filme atmosférico servido de uma exuberante e evocativa cinematografia em Technicolor de Jack Asher,
captando maravilhosamente o silêncio dos espaços e a aura de mistério do "algo paira no ar" na presença da neblina a surgir dos pântanos da arrepiante charneca no pós-anoitecer e ainda no contraste dos verdes com os castanhos e dourados do Outono que se aproxima em Dartmoor, no lado oeste de Inglaterra.
Peter Cushing é Sherlock Holmes |
A direcção de Terence Fisher é marcante, investindo ao longo do processo na tal sensação de ameaça e do mal circundante que nunca foi igualado em nenhum filme de Sherlock Holmes antes ou depois com a maravilhosamente assustadora, e ocasionalmente trágico-romântica, trilha sonora de James Bernard para completar o propício clima.
O argumento de Peter Bryan toma certas liberdades em relação à fonte introduzindo certos elementos mais exagerados de fantasia e horror mantendo-se assim fiel ao que se pode esperar de um filme da Hammer, mas o tom é estranhamente contido nunca ultrapassando a norma da obra para um lado demasiado irrealista.
David Oxley é Sir Hugo of Baskerville |
A presença do prólogo extra com Sir Hugo, numa grande performance deliciosamente malvada de David Oxley, sobre como a maldição dos Baskervilles começou, é inteligente e maravilhosamente executado.
O ritmo é extraordinariamente apelativo tendo em conta uma obra deste género, o ambiente sinistro oferecido é tão hipnótico que o espectador se perde algures no húmido nevoeiro juntamente com os personagens da acção e com a adrenalina ao máximo tenta escapar ileso, ao mesmo tempo que pelo meio não descansa até decifrar o mistério por detrás da maldição.
André Morell é o Dr.John Watson |
O fantástico elenco reforça o conjunto com Peter Cushing no comando dando vida a um credível e interessante Sherlock Holmes (o malogrado actor era fã confesso das obras de Conan Doyle) que como um cão-de-caça sabujo fumando do seu inseparável cachimbo segue freneticamente, pista atrás de pista sempre obstinado utilizando a célebre arrogância só quando é estritamente necessário.
Bispo Frankland (Miles Malleson) |
Auxiliado por uma das melhores rendições do Dr.Watson de sempre, André Morell, que segura o filme durante o I Acto, dando um lado mais sólido e intrépido ao seu personagem afastando-se do tratamento cómico dado por Nigel Bruce na primeira versão e Christopher Lee no seu auge, interpreta desta vez um bom da fita na pele de um Sir Henry simpático e jovial.
Christopher Lee é Sir Henry of Baskerville |
Lee pode parecer demasiado imponente e robusto para o frágil personagem que lhe foi dado, mas a presença do seu charme e carisma nas cenas com a actriz Marla Landi, que o tomam como certo como um "playboy", funcionam como surpresa para o espectador quando a trama dá a reviravolta final e nada é o que parece.
Marla Landi é Cecile |
Stapleton (Ewen Solon) & Mortimer (Francis De Wolff) |
Em suma, esta é uma das melhores adaptações de sempre de uma aventura de Sherlock Holmes para o grande ecrã, adequado a fãs da Hammer e do grupo de grandes actores envolvidos.
As modificações feitas à novela de Conan Doyle para o filme são bem geridas e criativas, deixando um mínimo de pontas-soltas para que a trama faça o mesmo sentido.
E para quem queira uma maior fidelização do livro poderá sempre visionar a versão de '39 com Basil Rathbone; o telefilme de '83 com Ian Richardson ou o episódio duplo da famosa série de TV de '88 com Jeremy Brett.
"The Hound of the Baskervilles" da Hammer Films é uma obra imprescindível na sua nostalgia de evocar uma Era de bom cinema de horror ambiental e um workshop para muitos realizadores actuais sobre a verdadeira arte de entregar um excelente filme, apesar de feito a baixo orçamento e sem qualquer recurso a efeitos especiais...
Género: Mistério / Crime.
Fotografia: Côr.
País: Inglaterra.
Duração: 87 minutos.
Trailer: http://www.youtube.com/watch?v=m5V012rB1Iw
Classificação: 10/10.
Reviewer: @ Nuno Traumas.
Belissimo filme !
ResponderEliminarJá não os fazem como antigamente...
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