Num futuro pós-apocalíptico, a população da Terra já esqueceu da Idade Dourada do Século 20, de toda a tecnologia da altura ou das cruéis guerras que se lhe seguiram. Já não se lembram também quando os "Juggers" começaram a jogar "O Jogo", um bárbaro desporto que mistura futebol americano com luta corpo-a-corpo ao estilo dos gladiadores, nem quando começaram a usar o crânio de um cão no lugar da bola... Uma equipa de jogadores liderada pelo veterano Sallow (Rutger Hauer), ex-"Jugger" da Liga das 9 Cidades da qual foi expulso, vagueiam de aldeia em aldeia desafiando as equipas locais para "O Jogo" somando vitórias atrás de vitórias. Quando após um desafio perdem o seu "Corredor" Dogboy (Justin Monju), Kidda (Joan Chen), uma ambiciosa indígena local, toma o seu lugar estabelecendo uma ligação afectiva com o amargurado Sallow, incitando-o a desafiar a equipa da Liga na Cidade Vermelha.
Contra a vontade dos dois membros veteranos da equipa: Big Cimber (Anna Katarina) e Mbulu (Delroy Lindo) e tendo apenas do seu lado o estouvado Gar (Vincent D'Onofrio) e o velho treinador Gandhi (Gandhi MacIntyre), Sallow comete a ousadia de desafiar os seus antigos companheiros da Liga na ânsia de se vingar de Lord Vile (Hugh Keays-Byrne), o homem que o expulsou anteriormente, mas enfrentar os "Juggers" profissionais e bem equipados pode ser o seu derradeiro jogo...
Rutger Hauer como Sallow |
Escrito e dirigido por David Webb Peoples, o argumentista de "Blade Runner" ('82) e "12 Monkeys" ('95) aqui na sua primeira longa-metragem, "The Salute of the Jugger" é uma co-produção entre a Austrália e os E.U.A. com um enredo que mistura o mundo pós-apocalíptico de um "A Boy and His Dog" ('75) e da trilogia "Mad Max" ('79 a '85)
com o desporto sanguinário futurista de "Rollerball", inserindo-se ainda no típico cinema de desporto da segunda metade dos anos 80, enaltecendo o heroísmo na perseverança dos mais fracos contra condições adversas, ao bom estilo de um "The Karate Kid" ('84) e mais concretamente "Best of the Best" também lançado em '89.
"The Salute of the Jugger" é uma obra niilista e directa ao assunto, num sólido argumento de David Webb Peoples que não nos tenta explicar à semelhança de outras produções do género, as razões que levaram o Mundo ao estado decrépito actual ou porque motivo se joga "O Jogo" cujos jogadores arriscam a vida para participarem.
Joan Chen como Kidda |
Na falta de esperança de uma Terra reduzida ao caos num quase estado de barbarismo, resta a amizade e a honra como motivação e "O Jogo" surge como um Messias que guia um sem-número de almas perdidas à redenção e glória.
Rutger Hauer, perfeitamente talhado para este tipo de papel, reúne-se novamente com David Webb Peoples depois do clássico de culto "Blade Runner" encarnando o amargurado líder da equipa que vive para recuperar o orgulho e esplendor de outrora.
Ao seu lado, Joan Chen destaca-se do restante elenco na pele da ávida e ambiciosa Kidda, que escapa a uma vida menor na aldeia na ânsia de perseguir o sonho e alcançar o triunfo de "corredora" da Liga.
A actriz treinou bastante, ganhando uma forma física capaz para a maioria das cenas de acção em que participa, prescindindo assim de ser substituída por uma dupla.
Vincent D'Onofrio como Gar |
Vincent D'Onofrio (o inesquecível Gomer Pyle do clássico de Stanley Kubrick "Full Metal Jacket" de '87), Delroy Lindo ("Get Shorty de '95) e Anna Katarina ("The Game" de '97) estão também muito bem como os restantes membros da equipa de Sallow.
Hugh Keays-Byrne como Lord Vile |
O actor shakespeariano que fez carreira na Austrália, Hugh Keays-Byrne e que deu vida ao psicótico vilão Toecutter em "Mad Max" ('79) interpreta a nemesis de Sallow, embora o filme não lhes dê o confronto final devido.
Visualmente e a nível de cenários é patente um orçamento acima da média para uma obra deste género, o guarda-roupa é credível e o filme injecta fielmente no espectador a sensação do mundo desolado pós-apocalíptico do qual se identifica.
Todo o design de produção da Cidade Vermelha merece nota positiva, bem como a contratação de todos os figurantes trajados à altura que compõem o set.
A encenação do jogo é tão violenta como cativante, tendo a vantagem de ter sido produzido para o grande ecrã pelo mesmo homem que o criou e o desenvolveu no papel, passando do filme para a vida real sendo o "Jugger" jogado em diversos Países do Mundo.
Big Cimber (Anna Katarina) & Mbulu (Delroy Lindo) |
Com tanto a favor e que poderia ter elevado "The Salute of the Jugger" a uma obra digna de figurar ao lado da trilogia "Mad Max", o filme perde-se pela carência de execução do mesmo, nomeadamente na terrível cinematografia que corta por completo a magnitude de certas sequências,
bem como a montagem final deficiente por pressão do Estúdio que reduziu o filme a menos de 20 minutos de duração, editando fora certas cenas-chave que dariam uma outra dinâmica ao filme e criando falhas de continuidade desnecessárias.
O clímax é abrupto e anti-climático, com os créditos a rolarem enquanto os actores ainda estão em cena e no meio de diálogos, sendo estes cortados pela banda sonora final.
A definitiva versão "uncut" do realizador com algumas cenas restauradas, especialmente as de violência, e um final diferente, viu a luz do dia em certos mercados,
embora certas pequenas histórias incluídas no guião original de Peoples e editadas fora para a estreia nos E.U.A. do filme, que recebeu o título tarefeiro de "The Blood of Heroes" em prol do mais memorável e portentoso "The Salute of the Jugger", dizem-se estar perdidas para sempre.
Em suma, "The Salute of the Jugger" é um filme bastante subestimado dentro do género, mas que poderia ter sido bem melhor caso a produção não interferisse e deixasse a visão de Webb Peoples para a obra que escreveu, intacta.
Rumores apontam para uma rodagem difícil em que o protagonista Rutger Hauer embateu por diversas vezes com o realizador sobre as acções e o destino final do seu personagem, mas em contrapartida a genuína química com a sua co-protagonista Joan Chen, criou uma amizade fora do ecrã resultando na colaboração de ambos em outros filmes futuros, sendo o mais conhecido "Wedlock", estreado dois anos depois.
Recomendado só para fãs de filmes pós-apocalípticos ou de desportos intensos e que suportem bem a escassez de diálogos, sendo uma obra que se concentra mais nos visuais e na acção. Ideal para se rever numa Sessão de cinema pela madrugada a dentro, é também um filme que precisa de ser redescoberto para assim ganhar um novo público.
Género: Acção / Ficção Científica / Desporto.
Fotografia: Côr.
País: Austrália / E.U.A.
Duração: 90 minutos.
Trailer: http://www.youtube.com/watch?v=v6qckMHp7wU
Classificação: 7.5/10.
Reviewer: @ Nuno Traumas.
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