Vietname, 1969. O soldado americano Nick Parker (Rutger Hauer) durante uma missão de reconhecimento, é atingido com estilhaços de um morteiro e perde a visão. É encontrado por uma tribo local que o ajudam e o ensinam a usar os restantes sentidos, bem como o treinam no manejo da espada, tornando-se num mestre da arte. Vinte anos depois, Nick resolve visitar o seu antigo camarada de armas, Frank Devereaux (Terry O'Quinn) a Miami, descobrindo que o mesmo se separou da mulher Lynn (Meg Foster) que vive com o filho pequeno de ambos, Billy (Brandon Call). O que Nick desconhece é que o seu velho amigo se meteu numa enrascada em Las Vegas, pois ao dever dinheiro ao mafioso local MacCready (Noble Willingham) este obriga-o a usar os seus grandes conhecimentos em química para criar uma droga poderosa para com a sua venda este poder pagar a dívida do seu casino ao banco. Como forma de convencer Devereaux, MacCready manda o seu capanga Slag (Randall "Tex" Cobb) com uma dupla de polícias corruptos para raptar o pequeno Billy, mas Nick Parker consegue fugir com ele, sem que consiga evitar que a mãe seja assassinada. Prometendo levar o pequeno ao pai, os dois embarcam numa viagem atribulada para Las Vegas com os assassinos a soldo do mafioso na sua peugada...
Rutger Hauer é Nick Parker |
No mesmo ano em que nos entregou o thriller de suspense "Dead Calm", o realizador australiano Phillip Noyce dirigiu este espirituoso filme de acção protagonizado pelo sempre excelente Rutger Hauer na pele de um veterano do Vietname que perdeu a visão,
mas encara a vida com um optimismo invejável transformando-se numa máquina mortífera caso se metam com ele ou com os seus ente queridos.
Baseado no personagem japonês Zatôichi vindo de uma longa-metragem e série de TV, "Blind Fury" é uma homenagem aos chamados "easterns", a versão japonesa dos westerns com samurais e senhores feudais no lugar dos populares cowboys,
Meg Foster é Lynn Devereaux |
produzido pelo então actor Tim Matheson em parceria com Daniel Grodnik para a defunta Tri Star Pictures, depois do filme ter sido recusado por vários Estúdios durante os 7 anos que esteve em pré-produção.
Brandon Call é Billy Devereaux |
Noyce constrói uma obra que oscila entra o lado mais extrovertido de comédia com as situações caricatas em que Nick Parker se envolve ao longo da jornada
Randall "Tex" Cobb é Slag |
e o lado mais dramático na sua relação com o pequeno Billy, depois de prometer à sua mãe moribunda que o entregaria são e salvo ao pai.
A direcção é sólida nesse balanço entre os dois géneros e as doses de acção introduzidas têm um bom ritmo. A cinematografia é bastante competente e a encenação muito bem conseguida especialmente na célebre perseguição nos campos de milho.
Rick Overton é Tector & Nick Cassavetes é Lyle |
Os vilões podem ser demasiado caricaturais ao ponto de quase personagens de banda desenhada, mas fluem bem com o tom não muito sério do filme.
No capítulo das performances, Rutger Hauer transforma qualquer filme, e independente do género envolvido, numa obra de arte devido à profundidade e dedicação ao personagem. O seu Nick Parker é divertido quando as situações são propensas a isso, mas também sério, intenso e comovente, especialmente nas cenas com o pequeno Brandon Call. A sua performance como invisual é tão credível que ultrapassa inclusive, a qualidade do próprio filme com o actor a injectar o desenvolvimento necessário ao personagem tornando este simpático vagabundo, icónico, e que como Caine de "Kung Fu" vagueia pela selva do asfalto da América, ajudando a quem precisa, sendo um delírio de se seguir.
Lisa Blount é Annie Winchester |
Ao seu lado, figura um elenco repleto de caras conhecidas do série-B como Randall "Tex" Cobb ("Uncommon Valor" de '83); a malograda Lisa Blount ("John Carpenter's Prince of Darkness" de '87); Terry O'Quinn ("The Stepfather" de '87); Noble Willingham (que interpretaria um personagem algo semelhante em "The Last Boy Scout" de '91);
Meg Foster (que se reúne novamente com Hauer depois de ter interpretado a sua esposa em "The Osterman Weekend" de '83); Nick Cassevetes (filho do lendário John Cassavetes) e o Mestre Shô Kosugi ("Revenge of the Ninja de '83) num curto cameo como o assassino contratado para eliminar Nick Parker.
Shô Kosugi é o Assassino |
Em suma, "Blind Fury" é um pequeno grande filme, quase esquecido nos dias de hoje, mas um dos melhores dentro do género da década de 80.
A sua curta duração torna-o leve e fácil de seguir como uma viagem agradável de puro entretenimento despretensioso que envolve por completo o espectador.
Algumas das deixas são puro ouro servindo como cápsulas do tempo da sua época, como o invisual Nick Parker a encontrar um crocodilo vindo dos pântanos da Florida e que apanha sol à beira da estrada, exclamando "Nice doggy !!" ou no confronto final com o vilão MacCready: "Well, well, well, Mr. Blind Man, you're positively an incredible human being. You're a walking advertisement for hiring the handicapped!".
A título de curiosidade, o destino dado por Nick Parker ao personagem de Randall "Tex" Cobb foi reciclado por George Lucas para o episódio I de "Star Wars" ('99). A aguardada sequela de "Blind Fury" nunca viu a luz do dia, mas cerca de 22 anos depois, o regresso de Rutger Hauer ao género que lhe deu fama com "Hobo with a Shotgun", serviu como uma piscadela de olho a este filme, dando-lhe a homenagem sentida e devida.
Género: Acção / Comédia / Drama / Artes Marciais.
Fotografia: Côr.
País: E.U.A.
Duração: 86 minutos.
Trailer: http://www.youtube.com/watch?v=zZ9fuHQIR_4
Classificação: 8/10.
Reviewer: @ Nuno Traumas.
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