Durante a perseguição ao assassino em série Charles Lee Ray (Brad Dourif) conhecido como o "Estrangulador de Lakeshore", o tenente Mike Norris (Chris Sarandon) atinge-o mortalmente perto de uma loja de brinquedos. Antes de falecer, o assassino transfere a sua alma através de um ritual de magia negra para um boneco da colecção "Good Guys". No dia seguinte, Karen Barclay (Catherine Hicks) sabendo o desejo do seu filho pequeno Andy (Alex Vincent) de ter um "Good Guy" para o aniversário e não tendo o dinheiro suficiente para o adquirir na loja, compra um muito mais barato por mercado negro através de um mendigo vendedor-ambulante. O aparentemente sorridente e angelical boneco Chucky (voz de Brad Dourif), recém-chegado a casa dos Barclay, acaba por se revelar mais do que aquilo que Andy pedira, quando a sua babysitter Maggie (Dinah Manoff) é atirada do quinto andar do prédio e ao revelar à mãe e ao detective Norris que o boneco pode ser o responsável pelo assassinato, ninguém acredita nele.
Charles Lee Ray transfere a alma para o boneco |
Andy (Alex Vincent) quer um "Good Guy" para os anos |
A mãe Karen (Catherine Hicks) compra um no mercado negro |
O novo membro da família Barclay |
O aproveitamento de espaços é impressionante, com a acção na sua maioria localizada num apartamento médio e mesmo assim conseguindo criar um suspense de cortar à faca,
Pequenos passos furtivos no apartamento... |
mantendo o espectador na adrenalina constante com uma sensação quase claustrofóbica que nos liga aos protagonistas do filme em fuga do boneco assassino.
Ninguém acredita em Andy |
Toda a equipa de caracterização, dos manipuladores da marioneta aos efeitos especiais usados que dão vida a Chucky têm aqui um magnífico trabalho de execução e criatividade para o parco orçamento da película
Karen descobre a cruel verdade... |
e apesar de em algumas sequências ser notório o uso de um duplo: o actor anão Ed Gale (o mesmo de "E.T." de '82 ou "Howard the Duck" de '86) em nada prejudica o resultado bastante positivo do produto final.
Outra das grandes mais-valias desta estreia de Chucky no cinema é o uso controlado do humor negro, apresentado em doses certas sem ser levado ao exagero ao ponto de aligeirar a obra,
o que foi acontecendo nas posteriores sequelas cada qual a injectar cada vez mais comédia, chegando ao ponto da paródia total no terrível "Seed of Chucky" ('04).
Este "Child's Play" original, e apesar de partir de uma premise algo "cheesy" de um boneco diabólico falante, é um filme de terror sério e a sério, parcialmente inspirado num dos segmentos de "Trilogy of Terror" ('75) com Karen Black
Em casa de Charles Lee Ray |
e de um episódio da clássica série de TV, "Twilight Zone" tendo como público-alvo os fãs de um cinema de horror mais atmosférico, sombrio e de mistério ao contrário dos seguidores dos últimos filmes que não passam de versões "geração MTV" do boneco, que apelam essencialmente mais à comédia do que ao horror.
Brad Dourif como Charles Lee Ray |
No capítulo das interpretações, o eterno vilão Brad Dourif ("Dune" de '84 ou o bífido Wormtongue da saga "Lord of the Rings") presenteia-nos com um delicioso e extravagante desempenho como Charles Lee Ray, um nome adaptado de três assassinos em série reais: Charles Manson, Lee Harvey Oswald e James Earl Ray,
contribuindo com o seu timbre característico de voz para dar vida a Chucky, numa excelente escolha de elenco, visto que assenta como uma luva à personalidade vil e debochada do boneco.
Catherine Hicks ("Death Valley" de '82 ou "Peggy Sue Got Married" de '86), que quase distrai o espectador do filme devido à sua beleza e charme, está muito bem como a mãe desesperada;
Tenente Mike Norris (Chris Sarandon) vs. Chucky |
Chris Sarandon reciclado da anterior obra de Holland "Fright Night" onde deu vida ao vampiro Jerry Dandrige, cumpre no papel-cabotino do tenente encarregado do caso do Estrangulador de Lakeshore
e o pequeno Alex Vincent de apenas 7 anos, e embora a sua performance tenha sido criticada em certos circuitos, ilumina o conjunto num desempenho cheio de bons momentos especialmente durante as conversas privadas com Chucky e a sua tentativa vã de explicar aos adultos a natureza assassina do boneco, com toda a gente a não acreditar nele.
Esse artifício foi usado nos primeiros rascunhos do guião, em que a trama girava em torno da estranha relação de Andy Barclay com Chucky, não mostrando ao público tão obviamente quem era o responsável pelos assassinatos, ficando todos na expectativa se de facto o boneco estaria mesmo possuído ou era a própria criança perturbada o autor dos crimes.
O conceito foi abandonado, quando os produtores pensaram logo de origem promover o filme como o boneco diabólico, o que estragaria a surpresa da suposta reviravolta final do filme.
Em suma, como filme de horror e suspense é um dos mais originais e criativos saído da década de 80, como thriller de mistério cumpre na perfeição através do ambiente criado em homenagem ao terror clássico, juntando-se-lhe as doses de humor negro através dos ditos do boneco e uma competente sequência de acção em que o detective Norris tenta escapar a Chucky ao volante do seu automóvel e o resultado é uma das obras mais memoráveis dentro do género. Altamente recomendado!!
Género: Horror / Thriller / Mistério.
Fotografia: Côr.
País: E.U.A.
Duração: 87 minutos.
Trailer: http://www.youtube.com/watch?v=zWp3yGx6DxI
Classificação: 9/10.
Reviewer: @ Nuno Traumas.
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