1501. Europa Ocidental. Numa época medieval em que a Peste Negra dizimava as populações, um grupo de mercenários liderados por Martin (Rutger Hauer) são contratados pelo nobre Arnolfini (Fernando Hillbeck) e o seu capitão Hawkwood (Jack Thompson) para reconquistarem o seu castelo a troco de uma choruda recompensa. Depois da vitória são traídos pelo nobre e abandonados à sua sorte, sem armas, comida ou dinheiro. Pretendendo vingança atacam a comitiva do nobre Arnolfini, onde viaja o seu filho Steven (Tom Burlinson), um estudante de ciências e a sua futura noiva, a virginal Agnes (Jennifer Jason Leigh), raptando-a. Martin apaixona-se à primeira vista pela bela princesa e tudo fará para a proteger da cobiça do restante grupo, inclusive tomar decisões que podem pôr em perigo a segurança de todos, ao mesmo tempo que o noivo não descansará enquanto não trouxer a sua prometida de volta...
Primeiro filme americano do cineasta holandês Paul Verhoeven, que atingiria o sucesso dois anos depois com o igualmente excelente "Robocop", dirigindo o seu conterrâneo Rutger Hauer pela sexta vez,
Kars, Martin & Summer atacam o castelo |
"Flesh+Blood" não só é a obra-prima do seu realizador, como um dos mais fabulosos e alucinantes filmes sobre a época medieval alguma vez feitos.
O excelente guião de Gerard Soeteman em parceria com o próprio Verhoeven é transposto para a tela através de um visual cheio de estilo e extremamente realista,
aliado a uma violência mordaz fundida com o erotismo selvagem como se o espectador estivesse de facto na Idade Média.
Steven & Agnes juram amor eterno |
Nada em "Flesh+Blood" é deixado ao acaso, desde os excelentes cenários ao guarda-roupa e caracterização do grupo de actores que quase conseguimos absorver a pestilência emanada,
Rutger Hauer como Martin |
Verhoeven rompe assim por completo com o clássico e limpo filme de aventuras de capa e espada apresentando uma das obras mais historicamente correctas de como era a vida naqueles tempos,
e mesmo assim consegue manter um nível elevado de entretenimento em perfeita harmonia com a trama apresentada.
Jennifer Jason Leigh como Agnes |
"Flesh+Blood" é também uma lição em estrutura da narrativa e montagem se comparado a muitos outros filmes que carecem nesse departamento,
nas suas 2 horas de duração consegue transmitir uma história forte e concisa e as pequenas histórias que daí derivam sem nunca perder a energia, nunca caindo no estigma de tempos-mortos ou cenas desnecessárias.
O ritmo é de tal maneira perfeito que com aquilo que nos é apresentado e contado pensamos estar perante uma película épica de 3 horas,
Susan Tyrrell como Celine |
mas a adrenalina é tanta e as sequências estão tão bem dirigidas que quando o filme termina nem se dá conta que o tempo passou. Para além da qualidade da edição de imagem de Ine Schenkkan, destaca-se também o brilhante trabalho de cinematografia de Jan de Bont (futuro realizador de "Speed" de '94) e a gloriosa trilha sonora épica do grande Basil Poledouris (compositor de "Conan the Barbarian" de '82).
A nível de performances, Rutger Hauer, um dos actores mais subestimados de sempre em Hollywood é um hipnótico, violento e sobretudo inesquecível Martin, cuja maldição cai sobre ele e o grupo de mercenários que comanda, quando se atreve a apaixonar-se pela ex-noviça de pele branca e macia Agnes,
Tom Burlinson como Steven Arnolfini |
interpretada pela então jovem Jennifer Jason Leigh que tudo fará para sobreviver ao selvagem bando de renegados na esperança de se reunir com o seu amado Steven, numa performance cuidada de Tom Burlinson.
Brion James como Kars |
O elenco secundário estão como peixes-na-água na sua naturalidade para os seus vis e execráveis papéis, destacando-se o malogrado Brion James e Susan Tyrrell nos seus habituais exagerados (e odiosos) desempenhos.
Cardeal (Ronald Lacey) & Orbec (Bruno Kirby) |
O australiano Jack Thompson está muito bem como Hawkwood apesar do limitado tempo em cena e Ronald Lacey com a carreira ressuscitada depois de ter dado vida ao SS Toth em "Raiders of the Lost Ark" ('82) interpreta um padre muito pouco ortodoxo.
e Hauer reunir-se-ia novamente com a bela Jennifer Jason Leigh no ano seguinte noutro clássico de culto, "The Hitcher" co-protagonizado por C.Thomas Howell.
Em suma, "Flesh+Blood" é uma experiência única dentro do género, sendo "cinema de autor" e apostando no realismo absoluto,
porém nunca deixa o lado artístico subjugar o entretenimento e a diversão do conjunto, cumprindo assim como produto final numa obra inteligente, bem dirigida e interpretada e que cerca de 30 anos depois ainda não foi ultrapassada.
Uma das melhores lições de moral retiradas de "Flesh+Blood" é que ninguém na história tem de facto qualquer tipo de moral, não há bons, nem maus, não existem santos e não só os pecadores merecem castigo e todos os personagens são dúbios.
Magnífica obra de Paul Verhoeven, "Flesh+Blood" merece ser visto e revisto na categoria de uma das melhores aventuras épicas de sempre!!
Género: Aventura / Drama / Histórico.
Fotografia: Côr.
País: Espanha / E.U.A. / Holanda.
Duração: 126 minutos.
Trailer: http://www.youtube.com/watch?v=0VOy1JZBH5c
Classificação: 10/10.
Reviewer: @ Nuno Traumas.
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