Na Era Hiboriana, um mundo de magia e barbarismo em que Conan, o Bárbaro caminhou pela Terra, existiu a heroína Red Sonja (Brigitte Nielsen), que por resistir aos avanços da malévola Rainha Gedren (Sandahl Bergman) viu a sua família ser massacrada e o seu corpo violado pelos seus exércitos. Sobrevivendo ao trágico incidente, Sonja jurou vingar-se da Rainha ao mesmo tempo que fez um juramento de só se entregar a um homem que a vença numa batalha. Anos depois, enquanto Sonja treina a arte de luta e esgrima num mosteiro, a Rainha e os seus homens atacam um grupo de sacerdotisas antes de estas destruírem um poderoso talismã que em contacto com a luz poderá destruir o Mundo. Escapando à chacina, mas ferida com gravidade, Varna (Janet Agren), irmã de Sonja encontra o solitário guerreiro Kalidor (Arnold Schwarzenegger) que a ajuda e a leva à ruiva guerreira. Moribunda, Varna, fá-los prometer encontrarem o talismã e destruí-lo antes que seja tarde demais. Movida pela vingança, Sonja inicia uma jornada fantástica no intuito de por um fim às atrocidades da terrível Rainha e devolver o talismã ao mundo das trevas...
A violação |
A suposta terceira aventura de Conan, o Bárbaro no cinema que desta vez encontraria outra célebre personagem proveniente do mesmo mundo fantástico criado pelo escritor Robert E.Howard, Red Sonja,
Arnold Schwarzenegger é Kalidor |
mas devido a um entrave de direitos de autor por parte da Universal Pictures, o Estúdio que financiou "Conan the Barbarian" ('82) e baniu "Conan the Destroyer" ('84)
Brigitte Nielsen é Red Sonja |
devido à orientação mais extrovertida e "cheesy" do filme em contraste com a seriedade épica da obra original, o personagem teve que ser alterado para Kalidor, embora seja em tudo Conan, excepto no nome.
A tentativa de destruição do Talismã |
Devido ao contracto com Dino De Laurentiis que o lançou em '82, Schwarzenegger aceitou participar em "Red Sonja" apenas num glorioso "cameo", mas com os sucessos de "The Terminator" ('84) e "Commando" ('85)
que estabeleceram o musculado austríaco como uma estrela de acção rentável, a produção com o uso de múltiplos ângulos de câmara nas cenas com Arnold e com o auxílio de uma montagem perspicaz,
tornou-o, sem o próprio saber, o co-protagonista da história tentando ofuscar inclusive a verdadeira heroína do filme, com Schwarzenegger a receber o "top billing" nos créditos iniciais e em muitos Países o título do próprio filme refere-se a "Kalidor" em vez do original "Red Sonja".
Afastando-se ainda mais do lado sombrio e depressivo da bastante superior obra original do que "Conan the Destroyer", "Red Sonja" lembra mais um série-B italiano como "Deathstalker" ou "Il Mondo di Yor" (ambos de '83),
Janet Agren é Varna |
filmados em tempo recorde e a baixíssimo orçamento para capitalizar no sub-género de emergente sucesso "sword 'n' sorcery", do que um filme legítimo pertencendo (ou não) à franchise de "Conan".
O trabalho de câmara e a encenação do veterano tornado tarefeiro, Richard Fleischer que já havia dirigido o anterior "Conan the Destroyer" em parceria com director de fotografia Giuseppe Rotunno é impressivo em algumas sequências,
como o plano inventivo na tentativa de destruição do talismã pelas sacerdotisas e as várias panorâmicas usadas ao longo da aventura mostrando-nos e envolvendo-nos na Era Hiboriana e os cenários são muito bons, mesmo para os dias de hoje,
como o Templo aonde decorre o treino de Sonja; a ponte-esqueleto ou o quarto de luzes aonde a Rainha Gedren guarda o poderoso talismã.
Sandahl Bergman é Gedren |
A partir daí e não tirando o mérito aos pontos fortes referidos, tudo o resto é uma autêntica trapalhada de filme que nem a espantosa performance de Sandahl Bergman, que retorna à "franchise" depois de ter interpretado a amada de Conan, Valeria no primeiro filme, como a terrível Rainha Gedren o consegue salvar.
O argumento é quase inexistente com um enredo-base da destruição do talismã e cerca de 50 minutos de enchimento pelo meio que nem avança, nem atrasa a resolução da trama, apenas enche o já por si curtíssimo filme de longa-duração.
Ernie Reyes Jr. é o Príncipe Tarn |
A inclusão gratuita de Ernie Reyes Jr. e Paul L.Smith como alívios cómicos tornam uma suposta aventura fantástica de uma mulher violada tornada guerreira intocável e disposta a vingar-se da sua nemesis que lhe arruinou a vida,
Red Sonja, Tarn & Falkon (Paul L.Smith) |
numa espécie de comédia arlequinada de um "Bucha e Estica" perdidos num mundo de barbarismo que não servem para outra coisa sem ser a paródia gratuita (ou para piscar o olho às crianças para acorrerem à sala de cinema, quando na realidade a classificação dada a "Red Sonja" acabaria por as impedir de o ver).
Schwarzenegger carrega a expressão oscilante entre o embaraço e o não saber o que fazer com o personagem (provavelmente pensando "se me pedem para agir como Conan quem é este Kalidor?"
ou "se eu gravei somente material para uns 10 minutos de filme porque apareço durante o filme todo, especialmente em cenas em que é completamente desnecessária a minha presença?"),
Brigitte Nielsen é terrível como actriz (para quê tantos "close-ups" durante as falas que acentuam ainda mais a ausência de talento) e sem o suporte e fama de Arnold ao lado, a sua credibilidade no personagem teria sido ainda pior
e finalmente, a já referida Sandahl Bergman é tão hipnótica e dominante no seu papel, abafando por completo o resto do elenco, que se o filme se chamasse "Rainha Gedren - A Lenda do Talismã" provavelmente faria muito mais sentido.
Em suma, se comparado ao grandioso "Conan the Barbarian", "Red Sonja" nem a honra de filho-bastardo merece ter,
mas se visto como uma obra despretensiosa e espirituosa na senda do "trash" italiano que entupia as salas de cinema e posteriormente o mercado vídeo nos inesquecíveis anos 80, é divertimento mais do que garantido.
Aos fãs do termo "tão mau que se torna bom", "Red Sonja" adequa-se na perfeição e nas sábias palavras de Maria Shriver (esposa de Arnold na altura) depois da ante-estreia do filme:
"Arnold, se isto não lixar com a tua carreira de vez, podes ficar descansado que mais nada do que faças poderá lixá-la." Claro que Maria Shriver decerto que não poderia ver o futuro em '85, mas se comparado a "Junior" ('94), "Jingle All the Way" ('96), "Batman & Robin" ('97) ou "Terminator 3 - Rise of the Machines" ('03), "Red Sonja" de certo que não é assim tão mau, nem o motivo de maior vergonha para Arnie...
Género: Acção / Aventura / Fantasia.
Fotografia: Côr.
País: E.U.A. / Holanda / Itália.
Duração: 89 minutos.
Trailer: http://www.youtube.com/watch?v=vpfZ6IRXfY4
Classificação: 6.5/10.
Reviewer: @ Nuno Traumas.
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