1885. Escócia. Lord John Clayton (Paul Geoffreys) e a esposa, Lady Alice (Cheryl Campbell) abandonam a Mansão Greystoke para se estabelecerem numa Colónia perto da costa de África, para tristeza do pai The Sixth Earl of Greystoke (Ralph Richardson). Meses depois e após o navio naufragar numa zona selvagem, o casal sobrevive construindo uma casa na árvore, tendo como companhia uns ruidosos gorilas. Contraindo malária, Lady Alice acaba por falecer após dar à luz um saudável rapaz e Lord John acaba morto ao enfrentar o líder dos gorilas pela posse do território, cuja fêmea ao ter perdido a cria à pouco tempo, leva consigo o bebé humano. Anos depois, John Clayton (Christopher Lambert) já adulto, vive agora entre os gorilas, desconhecendo a civilização, mas quando um grupo de exploradores do Museu Botânico de Londres invade o seu território e depois de um confronto com a tribo indígena local, este salva o capitão belga Phillippe D'Arnot (Ian Holm) que reconhece através de um medalhão que John usa ao pescoço, como sendo o legítimo herdeiro de Greystoke.
Ensinando-lhe a falar e as regras e éticas do civismo, Phillippe depara-se com um ser humano prodigioso capaz de, através da mímica, reproduzir qualquer tipo de som e depois de muitas peripécias consegue levá-lo a casa para conhecer o avô e a respectiva protegida, Miss Jane Porter (Andie McDowell), mas estará John Clayton Jr. preparado para a verdadeira selva que é o suposto mundo civilizado?
Depois da sua longa-metragem de estreia, "Chariots of Fire" ('81) ter vencido diversos prémios, entre eles 4 Oscars da Academia, foi dada carta branca ao realizador inglês Hugh Hudson para dirigir qualquer projecto.
O escolhido foi a adaptação da famosa novela de Edgar Rice Burroughs sobre Tarzan, o Homem-Macaco para o grande ecrã, desta vez de forma mais sombria e realista aproximando-se mais do material de origem,
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| Christopher Lambert como John Clayton |
do que a posterior adaptação do personagem à banda desenhada ou aos populares, mas mais extrovertidos filmes protagonizados pelo ex-campeão de natação tornado actor, Johnny Weissmuller na década de 30.
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Hudson dirige uma obra visualmente hipnótica, recorrendo a uma peculiar encenação do envolvimento dos gorilas com o recém-chegado humano,
auxiliado pela fantástica cinematografia de John Alcott captando toda a magnitude de África dando-lhe um tom obscuro, mas elegante e com a envolvente trilha sonora de John Scott encaixando-se de modo perfeito no conjunto.
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O argumento de Robert Towne, que recebeu o crédito P.H.Vazak e Michael Austin, nomeados para Oscares, é um bom exemplo de uma adaptação competente para a tela e apesar de no II Acto não ser totalmente fiel à origem, os guionistas conseguiram criar, sem forçar demasiado, um guião conciso, muito bem escrito e acima de tudo, coerente.
Toda a equipe técnica e artística por detrás da manutenção dos gorilas, desde a caracterização com o fenomenal Rick Baker a ter sido nomeado para mais um Oscar, aos responsáveis pelas marionetas, culminando nos actores dentro dos fatos-de-macaco que contracenam com animais reais, foram um prodígio de criação mesmo para os parâmetros dos dias de hoje,
destacando-se a fabulosa performance do actor franco-americano Christopher Lambert, que se estreava aqui no cinema na pele de John Clayton Jr., que passou semanas dentro de uma jaula com os gorilas, estudando para compor a mímica física e a comunicação sonora e gestual necessárias para o seu papel do selvático homem-macaco. O resultado é um excelente e memorável desempenho, tristemente ignorado de uma nomeação para o Oscar.
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| Andie McDowell como Miss Jane Porter |
A também debutante, Andie McDowell tem a ingrata performance na pele da Miss Jane Porter, que viu a sua voz ser dobrada à última da hora pela actriz Glenn Close devido ao seu excessivo sotaque sulista que não agradou aos produtores do filme.
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| Sir Ralph Richardson como o Senhor de Greystoke |
O elenco secundário é recheado de nomes de peso do cinema inglês, muitos deles vindos do anterior filme de Hudson, destacando-se o sempre bem, Ian Holm ("Alien" de '79) como o mentor de John Jr. e o veterano Sir Ralph Richardson, no seu derradeiro papel no cinema, nomeado a título póstumo para o Oscar de Melhor Actor Secundário pela seu inspirado e espirituoso desempenho como o Senhor de Greystoke.
Como curiosidade e num argumento que nunca descuida os pormenores, o nome "Tarzan" é completamente omitido do filme,
evitando assim que se levante a questão da origem do mesmo, pois estamos perante um ser humano que foi criado por gorilas, sem nenhum ser humano por perto para o baptizar. O "Lord of the Apes" é referido no filme maioritariamente como Johnny, numa alusão ao pai, Lord John Clayton.
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| Ian Holm como Phillippe |
Outro pormenor interessante é o personagem de Ian Holm ter sido modificado para nacionalidade belga, para assim se justificar o porquê do actor Christopher Lambert falar com um sotaque francês.
Em suma, "Greystoke - The Legend of Tarzan, Lord of the Apes" é uma abordagem séria do personagem nunca antes vista que poderá ser uma experiência demasiado sombria, crua e difícil de digerir para algum público, tornando-se algo depressiva, especialmente num I Acto meramente descritivo,
focando o realismo da vida na selva e da chegada de um animal de outra espécie que ameaça a hierarquia dos gorilas, tendo de lutar para sobreviver e ser respeitado. A quase ausência de diálogos, o ritmo arrastado e a direcção pesada de Hudson não é certamente para todos,
mas "Greystoke" apesar do tratamento "artsy" do conjunto, consegue mesmo assim entreter sem causar tédio, ao mesmo tempo que levanta certas questões importantes do sadismo do ser humano sobre o animal e se a civilização como a conhecemos não será a verdadeira "selva"...
Género: Aventura / Drama / Romance.
Fotografia: Côr.
País: Inglaterra / E.U.A.
Duração: 135 minutos.
Trailer: http://www.youtube.com/watch?v=QJ0lKNYwNmA
Classificação: 8.5/10.
Reviewer: @ Nuno Traumas.
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