Itália. 1936. Um garoto de inteligência acima da média é levado à força pelas tropas nazis, depois de assistir ao massacre da sua família. O objectivo é usá-lo como cobaia numa experiência de criação de um exército de super-soldados para combaterem na 2ª Grande Guerra contra o consentimento da Dra.Maria Vaselli (Carla Cassola), directora do projecto que escapa e refugia-se nos E.U.A. 7 anos depois e no auge da Guerra, o Exército americano pede voluntários com incapacidades físicas para testarem o novo composto revisto pela Doutora. O californiano Steve Rogers (Matt Salinger) que sofre de poliomielite é o seleccionado, transformando-se num super-soldado denominado Capitão América, enviado para deter a ameaça de um poderoso inimigo conhecido pelo Caveira Vermelha (Scott Paulin) que pretende atingir a Casa Branca com um míssil. Depois do primeiro confronto com o super-vilão, o Capitão salva a Casa Branca da destruição, mas despenha-se juntamente com o míssil no Alaska, ficando congelado em animação suspensa.
Capitão América & Sharon (Kim Gillingham) |
Quando cerca de 5 décadas depois é descoberto por um grupo de rangers, Rogers depara-se com um Mundo que lhe é estranho, mas quando constata que o seu arqui-inimigo ainda vive e está por detrás de uma série de atentados, tendo cativo o Presidente dos E.U.A. Tom Kimball (Ronny Cox) é tempo do Combatente pela Liberdade e Justiça desenterrar o seu inquebrável escudo para o derradeiro confronto com o Caveira Vermelha...
Steve Rogers (Matt Salinger) |
A famosa produtora de filmes de acção de baixo-orçamento durante os anos 80 Cannon Group, dos primos Menahem Golan e Yoram Globus, adquiriu os direitos de autor em '84 à Marvel Comics para levar o Capitão América ao grande ecrã, mas a pré-produção do filme passou por tantos percalços,
Bernie (Kim Gillingham) |
incluindo a recusa da história pelo patrão da Marvel, Stan Lee; a vários realizadores e argumentistas que abandonaram o projecto até à bancarrota da própria produtora em finais de 80, que só o empurrão do sucesso de "Batman" em '89 como filme baseado num super-herói, fez com que Menahem Golan,
que abandonou a Cannon no mesmo ano, finalmente concretizasse o projecto pela sua nova (mas bastante mais pequena a nível de mercado) produtora, a 21st Century Film Corporation.
O mais conhecido director tarefeiro da Cannon, Albert Pyun, que salvou o desastre que teria sido "Masters of the Universe 2" para a produtora, transformando-o rapidamente num rentável veículo para Jean-Claude Van Damme com "Cyborg" ('89), foi chamado para retirar da gaveta o argumento de Stephen Tolkin, dar-lhe a revisão devida e dirigir o tão aguardado filme.
Inicialmente com os nomes de Arnold Schwarzenegger e Dolph Lundgren no ar para o papel do Capitão, o projecto atraiu diversos investidores extra que duplicaram os valores de produção, mas quando Stan Lee recusou Arnold devido ao excessivo sotaque austríaco, considerado não adequado para um personagem "all american"
e Dolph que passou sobre o papel em prol de outra adaptação da Marvel na pele do "The Punisher" ('89), o desconhecido Matt Salinger, que de facto lembra uma mistura de Dolph com um Eric Roberts, foi o escolhido para encarnar o Capitão América e as filmagens finalmente arrancaram no Verão de '89.
"Red Skull", o Caveira Vermelha (Scott Paulin) |
Tecnicamente, Pyun, director tarefeiro ou não, fez o que pode sobre um argumento desfragmentado, fruto das diversas revisões que teve ao longo dos anos, com parte do material a tomar demasiadas liberdades sobre a origem de ambos os protagonistas, incluindo um Caveira Vermelha que passa de alemão a italiano;
"Captain America" (Matt Salinger) |
um Capitão América tornado californiano; as duas namoradas de Steve Rogers pré-congelado e pós-descongelado passam a mãe e filha, entre outras mudanças, mas tudo isso seriam pormenores passáveis para o espectador comum, e mesmo "engolido" por fãs acérrimos da banda desenhada, se o resto do filme fosse balanceado com a acção em "comic book style" exigida numa produção deste género e um rigor histórico aceitável na origem do personagem durante os anos 40.
No I Acto do filme, e apesar de ser notório o estarmos perante uma obra de baixo-orçamento, os cenários de reconstituição da época estão bem aceitáveis com a disposição e ritmo do filme a apelarem a um seriado clássico dos anos 30
culminando na espantosa sequência do primeiro confronto entre o Capitão América e o Caveira Vermelha, como se as páginas de livros aos quadradinhos por uns instantes ganhassem vida.
A partir do II Acto tudo começa a sair dos trilhos, quando devido à falta de verbas dos investidores do filme, a Pyun é-lhe dada a ordem de fazer o que pode para concluir a obra e sem ter outra hipótese, o argumento é mais uma vez revisto e Steve Rogers assume a maioria do tempo em cena em sequências de puro enchimento, para o Capitão só voltar a reaparecer a meio do III Acto para salvar o dia.
Di Santis (Scott Paulin) |
O Caveira Vermelha que tão fiel à banda desenhada é ao início, passa a um vilão normal com a conveniente desculpa que fez uma operação plástica em voga nos anos 80, afastando a mítica "caveira vermelha" da história e perdendo com isso parte do seu impacto.
A nível de performances, Matt Salinger honra o personagem da maneira que pôde, perante o guião que lhe foi dado e os meios que teve, com a sua entrega a lembrar Christopher Reeve como Superman.
Tom Kimball (Ronny Cox) |
O elenco secundário é repleto de caras conhecidas, mas pouco utilizados na trama como os veteranos Ned Beatty e Ronny Cox, que se reúnem depois do filme-de-culto "Deliverance" ('72);
Coronel Louis (Michael Nouri) |
Michael Nouri de "Flashdance" ('83); Melinda Dillon de "Close Encounters of the Third Kind" ('77) ou Scott Paulin de "Teen Wolf" ('85), que está muito bem como o Caveira Vermelha.
Sam (Ned Beatty) |
Em suma, "Captain America" não é o péssimo filme que todos apregoam ser e tal como o infame "The Fantastic Four" ('94) foi uma tentativa de dar vida aos super-heróis da Marvel, contendo a componente "cheesy" necessária dos livros aos quadradinhos e o recurso a efeitos especiais mais arcaicos,
contrastando com os agora tecnologicamente perfeitos que têm por hábito abafar a história em prol do visual, mas que ficou a meio caminho devido a todos os problemas em redor da sua concepção.
Contudo, é um agradável série-B de acção e fantasia com thriller em tempo de guerra e romance à mistura, que se vê bem, mas que poderia ter sido bastante melhor. A aguardada versão do realizador poderá expandir o resultado do produto final, resta-nos aguardar que veja a luz do dia...
Género: Acção / Fantasia / Ficção Científica / Guerra.
Fotografia: Côr.
País: Jugoslávia / E.U.A.
Duração: 97 minutos.
Trailer: http://www.youtube.com/watch?v=Bo8DcSJqp8I
Classificação: 6/10.
Reviewer: @ Nuno Traumas.
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