O lendário detective da polícia, Dick Tracy (Warren Beatty) é o único duro o suficiente para liderar um grupo de homens-da-lei, numa cruzada contra o recém-auto-proclamado patrão da Máfia, Big Boy Caprice (Al Pacino) e o seu bando. Obcecado pelo trabalho, mas ao mesmo tempo devoto à leal companheira Tess Trueheart (Glenne Headly) e ao seu pequeno protegido, um órfão que apanhou das ruas conhecido apenas como Kid (Charlie Korsmo), Tracy encontra-se dividido entre o amor e o cumprimento do dever.
Madonna é Breathless Mahoney |
Quando a cantora de cabaret Breathless Mahoney (Madonna), amante de Caprice entra na sua vida, Tracy vê uma oportunidade de arranjar uma testemunha que possa pôr o mafioso atrás das grades, mas tudo se complica quando a bela mulher começa a desenvolver sentimentos pelo detective, abalando assim o seu relacionamento com a pura Miss Trueheart.
Warren Beatty é Dick Tracy |
E como um azar nunca vem só, um misterioso inimigo sem rosto entitulado "The Blank", aparece com o intuito de controlar a cidade, jogando para ambos os lados para concretizar o seu criminoso plano...
Sam (Seymour Cassel) & Chefe Brandon (Charles Durning) |
Em pré-produção desde o início dos anos 80 e com vários realizadores, em determinada altura, anexados ao filme, entre eles John Landis, Walter Hill, Martin Scorsese, Richard Benjamin e Steven Spielberg, Warren Beatty acabou por agarrar o projecto assumindo as funções de realizador, produtor, co-argumentista não creditado sobre o guião de Jim Cash & Jack Epps Jr. vindos do mega-êxito de "Top Gun" ('86)
e finalmente, depois da dificuldade em eleger o actor principal, quando Clint Eastwood não se mostrou muito interessado no papel e outros potenciais candidatos como Tom Selleck, Mel Gibson ou Harrison Ford estarem ocupados em filmagens doutros filmes, coube a Beatty a tarefa de vestir a célebre gabardina amarela e de "tommy gunn" em punho lutar contra o crime que assola a sua cidade.
Adaptado das célebres tiras aos quadradinhos, segundo a criação de Chester Gould em '31 para o jornal Detroit Mirror, "Dick Tracy" é um elegante e visualmente soberbo policial de acção e fantasia,
William Forsythe é Flattop |
recorrendo a uma excepcional direcção artística e de caracterização (ambos vencedores de Oscares em '91); ao trabalho cuidado na concepção do excêntrico guarda-roupa que invoca, maravilhosamente, o mundo da banda desenhada (nomeado para um Oscar)
e à fabulosa cinematografia de Vittorio Storaro (também nomeado para um Oscar) realçando o pitoresco e extravagante do conjunto, especialmente no destaque às sombras e ao contraste das cores quentes presentes, sendo a cereja no topo do bolo para transpor o espectador da realidade para o escapismo de um Mundo dos livros aos quadradinhos.
Numbers (James Tolkan) & Big Boy Caprice (Al Pacino) |
Warren Beatty, que é melhor director do que actor, dirige de modo competente o filme, liderando um elenco de luxo incluindo os amigos Al Pacino, excelente como Big Boy Caprice numa espécie do seu Tony Montana de "Scarface" ('83) em versão desfigurado e ainda mais alucinado, tendo sido nomeado para o Oscar de Melhor Actor Secundário pelo seu trabalho;
Dustin Hoffman é Mumbles |
Dustin Hoffman, num hilariante cameo como Mumbles, o chibo reaparecendo em cena ao lado de Beatty depois do fracasso de "Ishtar" ('87);
James Caan é Spaldoni |
James Caan e Kathy Bates, que no mesmo ano contracenaram no sucesso "Misery" que daria a Bates o Oscar de Melhor Actriz Principal; Estelle Parsons e Michael J.Pollard, colegas de Beatty no clássico "Bonnie & Clyde" ('67); Paul Sorvino de "Goodfellas" ('90) entre muitos outros.
Madonna, a namorada de Beatty na altura e quando o papel exigia uma actriz que soubesse cantar, por nepotismo ou não, foi a escolhida para dar vida à "femme-fatale" Breathless Mahoney, numa performance a caminhar para o medíocre que por pouco não arruinava o filme.
Glenne Headly é Miss Tess Trueheart |
Glenne Headly, sucedendo à problemática Sean Young que foi despedida ao fim de 2 semanas de filmagens, está muito bem como a pura e leal Tess Trueheart, o verdadeiro amor da vida de Tracy.
A título de curiosidade, Beatty homenageia a saga "The Godfather", mais concretamente na cena da reunião secreta dos "mobsters" em que Pacino / Michael Corleone como Big Boy Caprice enfrenta o seu "irmão" James Caan / Sonny Corleone aqui como o gangster Spaldoni que ironicamente também é assassinado.
Como menos-valia e tirando toda a maravilhosa parte técnica, "Dick Tracy" carece de um guião forte e à altura de tudo o resto, pois é demasiado tarefeiro e a dada altura torna-se um pouco monótono,
sem muitas surpresas e com diálogos reciclados como se os espectadores fossem todos eles crianças e necessitassem de ajuda para seguir uma trama já por si básica,
quando na realidade e devido a alguma violência presente no filme, a Disney passou a produção à sua subsidiária Touchstone Pictures, receando má publicidade e o filme estreou para um público-alvo adolescente e adulto.
Em suma, apesar de mais estilo do que substância, "Dick Tracy" é na mesma, um divertido filme de se seguir e uma fiel adaptação da banda desenhada que não deixa ninguém indiferente.
Dick Van Dyke é o Promotor |
O lado mais "cheesy" e espirituoso do conjunto está presente, mantendo o espectador com um constante sorriso nos lábios.
A escolha de um actor mais novo para o papel, como um dos principais candidatos Mel Gibson que poderia ter feito maravilhas com o personagem, poderia ter beneficiado o filme em prol de um Warren Beatty de 52 anos,
que a dada altura parece estar algo perdido com o personagem ou ocupado demais a dirigir toda a película, descuidando assim do essencial para o seu desempenho como protagonista.
Género: Fantasia / Crime / Acção / Comédia.
Fotografia: Côr.
País: E.U.A.
Duração: 105 minutos.
Trailer: http://www.youtube.com/watch?v=t7JtmqZ6Ni0
Classificação: 8.5/10.
Reviewer: @ Nuno Traumas.
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