Peyton Westlake (Liam Neeson) é um cientista que descobre um meio de reproduzir pele sintética revolucionando assim o mundo da medicina, mas as células regenerativas entram em degradação após 99 minutos de exposição à luz. Quando a namorada, Julie Hastings (Frances McDormand) advogada do rico empresário Louis Strack Jr. (Colin Friels) que pretende construir uma cidade futurista, descobre provas incriminatórias de suborno e as deixa com Peyton, o seu laboratório é invadido pelo gangster Robert G.Durant (Larry Drake) e os seus capangas que o atacam, deixando-o horrivelmente queimado para depois explodirem com o local. Julgado morto pela namorada, Westlake é encontrado à deriva na zona portuária, levado para o hospital e devido ao gravíssimo das suas queimaduras é submetido a uma nova técnica em que fica incapaz de sentir dor, mas com os efeitos secundários torna-se propício a ataques violentos, bem como aumenta bastante a sua força física.
Liam Neeson como Darkman |
Decidido a vingar-se de quem o tornou num monstro, Peyton faz de um velho reservatório o seu novo laboratório e começa a produção de pele sintética transformando-se em cada um dos seus carrascos,
Darkman sob disfarce de Pauly (Nicholas Worth) |
de modo a virá-los uns contra os outros, ao mesmo tempo que procura o enxerto definitivo que devolva as suas feições, agora desfiguradas, ao que eram antes para assim recuperar a sua vida ao lado da sua amada Julie...
Dr.Peyton Westlake (Liam Neeson) & Julie (Frances McDormand) |
Antes de concluir a trilogia "Evil Dead" com "Army of Darkness" ('92), o inventivo Sam Raimi procurava dirigir um filme adaptado de um super-herói da banda-desenhada, visto a sua peculiar visão evocar desde sempre o estilo "comic book", bastante evidente em "Crimewave" ('85) ou "Evil Dead II - Dead by Dawn" ('87).
Não conseguindo os direitos para levar o personagem "The Shadow", criado por Walter B.Gibson nos anos 30, ao grande ecrã, que acabou por ser posteriormente adaptado ao cinema em '94 quando o género se tornou moda numa obra dirigida por Russell Mulcahy com Alec Baldwin na protagonização, estreado sem grande êxito,
Raimi optou por em parceria com o irmão Ivan, criarem eles próprios um super-herói ao melhor estilo de revistas aos quadradinhos, homenageando ao mesmo tempo os monstros lendários da Era clássica do cinema como o Fantasma da Ópera, o Conde Drácula ou a Múmia.
Durant (Larry Drake) encontra Durant |
O resultado final foi "Darkman", um grande filme de fantasia e crime com acção à mistura, visualmente fantástico, com os peculiares "close-ups" do inconfundível estilo de Sam Raimi aliado à brilhante cinematografia de Bill Pope e uma encenação algo "cartoonesca" sem que com isso o filme caia na comédia gratuita.
"Darkman" é um filme sério e algo sombrio, mas com o ocasional humor negro do realizador para aligeirar o conjunto, dando assim o balanço certo de nunca esquecer a origem "cheesy" de um filme de super-heróis, nem torná-lo numa quase paródia que estragou muitas dessas adaptações.
Depois da recusa do Estúdio sobre a primeira escolha de Raimi para o papel: Bruce Campbell, o melhor amigo dos tempos do liceu e eterno colaborador de Raimi desde o primeiro "Evil Dead" ('81), o actor irlandês Liam Neeson foi trazido a bordo para dar vida ao sôfrego Peyton Westlake / Darkman cujo fantástico actor lhe dá vida de modo fascinante em ambas as etapas do personagem.
Os conhecidos realizadores Joel e Ethan Coen, amigos pessoais e colaboradores de Raimi e cujo estilo visual e de direcção é bastante semelhante, participaram na revisão do argumento e com eles trouxeram a actriz Frances McDormand, que futuramente venceria um Oscar por "Fargo" ('96) dirigido pelo marido Joel, para interpretar Julie, a namorada de Peyton.
Colin Friels como Strack Jr. |
Colin Friels e Larry Drake estão ambos muito bem como os vilões de serviço, criando a dupla sordidez executada de modo diferente: ao passo que Friels invoca o vilão exagerado clássico que não olha a meios para concretizar os seus fins, Drake é um suave, mas terrível gangster dono de uma colecção peculiar de dedos arrancados às suas vítimas.
Cameo de Bruce Campbell |
O mencionado Bruce Campbell, em jeito de prémio de consolação, participa num pequeno cameo no final do filme. Destaque para a trilha sonora do compositor Danny Elfman, que iniciaria aqui uma produtiva aliança com Sam Raimi.
Em suma, "Darkman" é um dos melhores "comic book movies" de sempre sem de facto o ser e com ironicamente a acontecer o inverso, depois do êxito do filme,
que teve direito a mais duas sequelas, embora directas para vídeo e um episódio-piloto para uma série de televisão, o personagem passou directo para a banda desenhada onde se mantém até aos dias de hoje.
Foi graças a "Darkman" que Raimi foi contratado para o bem sucedido financeiramente "Spider-Man" ('02) e as suas sequelas que se mantém no topo das melhores adaptações de sempre para cinema de um super-herói da Marvel Comics.
"Darkman" é uma obra que deve ser vista por muitos aspirantes a directores de filmes adaptados da banda desenhada, para aprenderem que um filme não vive unicamente pelo espectáculo das novas tecnologias de efeitos especiais,
mas sim pela visão criativa do conjunto; da direcção de cenas de acção desenfreadas recorrendo ao uso de duplos em intrépidas proezas; do competente tratamento da história e sobretudo, pelo desenvolvimento dos personagens e boa orientação dos seus actores.
Género: Acção / Fantasia / Ficção Científica / Crime.
Fotografia: Côr.
País: E.U.A.
Duração: 96 minutos.
Trailer: http://www.youtube.com/watch?v=L58rdhCfDIU
Classificação: 8.5/10.
Reviewer: @ Nuno Traumas.
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