Karl Gunther (Klaus Kinski) é o velho senhorio de um prédio que só aluga os apartamentos a belas jovens, de preferência universitárias. Ex-médico de profissão esconde um tenebroso segredo sobre a sua descendência, o pai era um conhecido torturador nazi condenado à morte no final da II Grande Guerra e o demente Gunther pretende continuar o seu legado, equipando assim o seu apartamento com instrumentos de tortura, ao mesmo tempo que se move rastejando pelas condutas de ar (no "crawlspace") no intuito de espionar as suas inquilinas. Quando a jovem e inocente Lori Bancroft (Talia Balsam) se muda para o apartamento vago do rés do chão aonde vivia a anterior vítima do insano médico, torna-se na nova fixação de Gunther que a fará passar pelo inferno na terra...
Horror slasher de produção italiana dirigido por David Schmoeller do competente "Tourist Trap" ('79), "Crawlspace" é um série-B de baixo-orçamento cujo história colhe inspiração de "Psycho" ('60) atirando com "Peeping Tom" (também de '60) à mistura,
retirando o lado de suspense e terror psicológico do mesmo para acentuar o trash / exploitation do conjunto, através das mortes bizarras por via de instrumentos de tortura num ambiente exagerado e caricatural que por vezes roça o humor negro.
Klaus Kinski como Karl Gunther |
O argumento do próprio Schmoeller parte de uma boa premise, o de um médico louco filho de um cirurgião nazi que espia as suas inquilinas através das condutas de ar que ligam os apartamentos, estudando-lhes os hábitos antes de as matar,
mas a ideia-base acaba por não ser bem explorada, dando azo a um ritmo lento e momentos mortos em que nada se passa no ecrã e cenas irrelevantes como as entradas no diário do doutor narradas em voz off pelo próprio Kinski.
Para uma obra deste género, a direcção de David Schmoeller é acima da média e entrega-nos um filme sólido visualmente e a cinematografia de Sergio Salvati, embora por vezes filme o "crawlspace" numa escala maior em relação ao tamanho, é competente,
especialmente no acentuado uso de cores quentes em fotografia Technicolor evocando os velhos clássicos de culto da Hammer Films.
A orquestração de Pino Donaggio é efectiva, estabelecendo o tom adequado para criar a atmosfera arrepiante na qual embala todo o enredo.
Para uma obra deste género, peca pela ausência de gore e da pouca criatividade na encenação dos assassinatos, faltando-lhe aquela sordidez implícita durante o filme todo, que acaba por ser mais sugerida do que realmente mostrada.
Contudo, a presença das voluptuosas actrizes secundários em nu gratuito, algumas parecendo vindas de algum porno "made in 80's" cumprem com a fórmula do slasher, entrando nos domínios da nazi exploitation através dos actos bizarros de Gunther.
Para o excêntrico Klaus Kinski não lhe é preciso muito esforço para convencer como o demente doutor Gunther, um papel que o veterano actor faria até durante o sono.
A sua faceta ignóbil e aterrorizante encaixa-se na perfeição no mundo deste estranho senhorio e tendo a fama de um dos actores mais complicados para trabalhar em estúdio, todos os restantes actores e a equipe técnica mantiveram uma certa distância dele, acentuando ainda mais o lado solitário, anti-social e louco do seu personagem.
Talia Balsam como Lori Bancroft |
Talia Balsam, filha do "character actor" Martin Balsam e ex-mulher de George Clooney, interpreta a ingénua Lori Bancroft, a nova inquilina de Gunther num bom desempenho, mas demasiado subaproveitada.
Com a excepção de duas cenas filmadas no pátio do prédio (e mesmo assim em estúdio) toda a acção se situa no interior (aproveitando o set do filme "Troll" do mesmo ano também produzido por Charles Band), enaltecendo o lado claustrofóbico da obra, onde não se tem noção exacta do dia ou da noite.
Em suma, "Crawlspace é um produto híbrido entre a homenagem ao horror gótico da Hammer Films e do Giallo italiano e o cinema exploitation dos anos 70, que falha pelo guião sem muitas surpresas e situações pouco inspiradas.
A duração do filme não ultrapassa a 1h15m, sendo demasiado curto para o decurso do enredo e o desenvolvimento dos personagens, transformando no que poderia ter sido um grande filme dentro do género, num slasher tarefeiro algo vazio, mas que mesmo assim vale a pena ser descoberto e visionado pelo lado visual e sobretudo, para fãs do misterioso e perverso actor polaco Klaus Kinski.
Género: Horror / Thriller.
Fotografia: Côr.
País: Itália / E.U.A.
Duração: 80 minutos.
Trailer: http://www.youtube.com/watch?v=__ySsCuZPMM
Classificação: 6/10.
Reviewer: @ Nuno Traumas.
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