1976. Durante o Apartheid na África do Sul, Ben Du Toit (Donald Sutherland) é um "boer" professor de literatura, casado com Susan (Janet Suzman) e com dois filhos, Suzette (Susannah Harker) e o pequeno Johan (Rowen Elms), vivendo à margem da luta que os "kaffir", os negros nativos, travam contra os opressores. Quando durante uma manifestação que ficou conhecida como os motins de Soweto, a polícia captura o filho de Gordon Ngubene (Winston Ntshona), o fiel jardineiro dos Du Toit, e este aparece morto pós-interrogatório, o pai inicia uma luta pessoal para reaver o corpo do filho, acabando por lhe custar também a vida. Ben desperta assim para a crueldade e injustiça praticada diariamente pela Lei vigente contra os nativos, associando-se a Stanley Makhaya (Zakes Mokae), um reaccionário local e a uma ousada jornalista Melanie Bruwer (Susan Sarandon) para contratar um conhecido advogado de luta pelos Direitos Humanos, Ian McKenzie (Marlon Brando) para representar Emily Ngubene (Thoko Ntshinga), a viúva do jardineiro, em Tribunal numa acção contra a polícia. Abandonado pela própria família, tendo apenas o filho mais novo do seu lado, Ben Du Toit inicia assim uma batalha contra o sistema que lhe poderá custar a vida...
Ben Du Toit (Donald Sutherland) & Stanley Makhaya (Zakes Mokae) |
Primeira longa-metragem de uma realizadora negra para um grande Estúdio e tendo sido o último filme anti-apartheid estreado estando Nelson Mandela ainda na prisão, "A Dry White Season" é um drama social cuja temática de luta pelos direitos humanos seduziu diversas caras conhecidas de Hollywood como Donald Sutherland, que assume sobriamente a protagonização;
Melanie Bruwer (Susan Sarandon) |
Susan Sarandon, na pele da jornalista disposta a tudo para contar a verdade ao Mundo e o lendário Marlon Brando, que saiu do retiro de após mais de 10 anos sem filmar e aceitando trabalhar em pagamento sobre escala
Ian McKenzie (Marlon Brando) |
(facto inédito na filmografia do actor, que desde os anos 70 ficou conhecido por exigir somas exorbitantes aos produtores para dar a cara num filme, mesmo sendo somente num cameo como foi o caso de "Superman - The Movie" de '78 e ainda "Apocalypse Now" de '79 ou "The Freshman" de '90) devido à forte mensagem do filme.
O argumento da própria Euzhan Palcy em parceria com Colin Welland, baseado na novela de André Brink poderá parecer demasiado parcial, mas subtilmente os escritores introduzem um reverso da situação, atrevendo-se a insinuar num filme expressamente anti-apartheid, que o racismo poderá não escolher só uma cor,
Susan Du Toit (Janet Suzman) |
através de uma grande sequência brilhantemente actuada por Janet Suzman quando esta enfrenta o marido Donald Sutherland, imerso na sua batalha pela justiça, que este terá de escolher um lado na Guerra, pois encontra-se em "Terra de Ninguém" e isso poderá lhe custar carreira, a família e a própria vida.
A direcção de Euzhan Palcy é realista e competente para a sua primeira película de relevo, mas em alguns actores que compõem os "kaffir" nativos, é notório um certo amadorismo que necessitava de um polimento na direcção de actores para fazer sobressair as agonias, medos e sentimentos gerais dos seus personagens. Contudo, o "character actor" sul-africano Zakes Mokae, que fez carreira como secundário nos E.U.A., salva o conjunto na sua inspirada performance como Stanley, o braço-direito "kaffir" de Ben Du Toit.
Capitão Stolz (Jurgen Prochnow) |
Jurgen Prochnow (mais conhecido do grande público pelo seu papel do vilão Max Dent de "Beverly Hills Cop II" de '87) é o intimidante e facínora Capitão Stolz, um papel que o actor alemão desempenha sem grande esforço.
O Magistrado (Michael Gambon) & Brando |
Marlon Brando, apesar de somente aparecer em duas sequências, deixou um nível de impressão tão forte (mas haverá um filme em que não deixe?) como o espirituoso advogado que regressa aos Tribunais apesar de já não crer na justiça na África do Sul,
que acabou sendo nomeado para o Oscar de Melhor Actor Secundário, perdendo ironicamente para outro defensor dos Direitos Civis: Denzel Washington em "Glory" ('89). Brando foi também nomeado para o Golden Globe e um BAFTA, entre outros, pelo seu desempenho.
Em suma, "A Dry White Season" é um filme histórico que vale sempre a pena ser visionado na íntegra. O III Acto tende a parecer um pouco "espremido", fruto de diversas cenas cortadas por motivos de tempo e ritmo, e termina algo bruscamente, mas mesmo assim é uma obra interessante a descobrir pelo seu realismo e conteúdo
e sobretudo pelas grandes performances de alguns dos actores envolvidos que apenas carece das poucas intervenções de Sarandon e Brando que viram, muito provavelmente, grande parte das suas cenas omitidas da montagem final.
Género: Drama / História / Thriller.
Fotografia: Côr.
País: E.U.A.
Duração: 97 minutos.
Trailer: http://www.youtube.com/watch?v=eYy14PwAQuw
Classificação: 7.5/10.
Reviewer: @ Nuno Traumas.
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