A botânica Claire Bartel (Annabella Sciorra) está grávida do segundo filho, vivendo com o marido Michael (Matt McCoy) e a filha de 6 anos, Emma (Madeline Zima) numa bonita casa em Seattle, ajudando o deficiente mental Solomon (Ernie Hudson), vindo do Centro Better Day, arranjando-lhe trabalho para construir uma cerca para o jardim. Quando o seu ginecologista se retira, Claire é examinada por um novo médico, Victor Mott (John de Lancie) que irá ser pai do primeiro filho em breve, mas durante a consulta ela sente que o doutor a toca de uma maneira não-profissional. Chegada a casa e seguindo os conselhos do marido, Claire processa o Dr.Mott por assédio sexual, o que leva a que outras pacientes lhe sigam os passos, acabando assim com a carreira profissional do ginecologista que se suicida antes do julgamento. Com os bens congelados devido ao processo e ainda abalada com a perda recente do marido, Mrs.Mott (Rebecca De Mornay) sofre um aborto espontâneo, perdendo assim o bebé, culpando Claire Bartel por todos os seus infortúnios. Seis meses depois e com o novo bebé Joe em casa, Claire, pretendendo construir uma estufa, contrata os serviços de uma simpática ama que se apresenta como Peyton Flanders, mas por detrás do rosto sorridente e angelical esconde-se um anjo vingador, disposta a tudo para destruir a vida da mulher que lhe retirou tudo o que mais amava...
Excelente thriller psicológico asfixiante dirigido por Curtis Hanson (vencedor de 1 Oscar para Melhor Argumento Adaptado pelo posterior "L.A. Confidential" de '97, do qual foi também nomeado para Melhor Realizador) sobre uma inteligente e criativa história de Amanda Silver, que fazia aqui a sua estreia como guionista,
"The Hand That Rocks the Cradle" é um filme intenso, repleto de situações bem encenadas em ritmo frenético (bom trabalho de montagem de John F.Link), cativando o espectador totalmente imerso na sua narrativa.
A direcção confiante de Hanson é inovadora e exemplar, seja no efectivo controle sobre a manipulação presente na trama, no suspense criado e muito especialmente, na soberba direcção dos seus actores, ajudando assim a ultrapassar certas implausibilidades do enredo.
As interpretações são de topo, destacando-se uma magnífica e angelical Rebecca De Mornay que esconde um autêntico demónio dentro de si, na pele da vil, fria, calculista e sobretudo, manipuladora Peyton. Desde o primeiro encontro com Claire Bartel, de quem pretende se vingar destituindo-a do trono da mulher da casa,
numa memorável sequência em que surge na estrada em frente ao autocarro escolar, Peyton insinua-se pelo lar dos Bartel (e pela mente do espectador adentro) com uma malevolência que tanto tem de inquietante, como de fascinante.
O uso da cruel, mas refinada psicologia (muitas vezes ajudada pelo acaso) com a qual afasta a mulher das crianças e consequentemente do próprio marido é bastante bem construído do grande trabalho conjunto da actriz com o realizador.
Annabella Sciorra está muito bem como Claire cuja ingenuidade despoletou toda a acção do filme, com as cenas dos seus aflitivos ataques de asma a serem bastante credíveis e saindo-se no geral dignamente, interpretando uma personagem que em nada a favorece.
Julianne Moore, que aqui surge ainda num papel secundário, rouba qualquer cena em que aparece na pele da elegante, enérgica, feminista e desconfiada Marlene Craven, a melhor amiga do casal Bartel. A sua picardia com Rebecca De Mornay vai subindo de tom até ao aguardado embate final entre os dois personagens, culminando no final trágico de um deles.
Notável também o trabalho do subaproveitado Ernie Hudson como o débil mental, especialmente na sequência em que é ameaçado por Rebecca De Mornay.
Matt McCoy acaba por ser a menos-valia de um grande elenco, numa performance que nunca levanta voo, limitando-se a cumprir de modo tarefeiro a parte do marido yuppie, mas fiel que trava qualquer avanço da belíssima e sexy babysitter que dorme no andar de baixo.
Sendo ele próprio um acérrimo fã de Alfred Hitchcock, Curtis Hanson constrói a sua intriga piscando o olho às obras do Mestre, seja através da presença da femme fatale loira ou do ambiente sinistro criado com todas artimanhas sujas e manipulativas de Rebecca De Mornay a acontecerem durante a luz do dia, usando a casa como pano de fundo e o jardim como instrumento da sua vingança.
E como nem tudo são rosas, uma obra que poderia se ter tornado notável na ressurreição do filme negro, é completamente retalhada pelo típico, formulaico e pouco imaginativo clímax, parecendo saído de um básico "horror slasher" que quase arruína toda a experiência vivida.
O ideal é o espectador esquecer os últimos 10 minutos de filme e construir através da sua própria imaginação um final à altura, sobretudo se começou a simpatizar com a conturbada personagem de Peyton (que no fundo detém uma certa razão para os seus actos, embora o filme deixe isso ambíguo)
e a embirrar com o demasiado bem-comportado e politicamente correcto casal que no fundo têm os seus próprios telhados de vidro.
"The Hand That Rocks the Cradle" tornou-se o sucesso-surpresa de '92, gerando um rol de imitações baratas ao longo dos anos 90, que nunca conseguiram o mesmo êxito.
As performances de Rebecca De Mornay e Julianne Moore foram nomeadas para alguns prémios menos importantes, não chegando infelizmente aos Oscares, assim como o grande desempenho de Hudson que foi, quase criminalmente, posto de lado.
Altamente recomendado ainda assim para fãs de bons thrillers, apesar do fraco e previsível final...
Género: Thriller / Drama.
Fotografia: Côr.
País: E.U.A.
Duração: 110 minutos.
Trailer: http://www.youtube.com/watch?v=wjtfG8r14Uk
Classificação: 8.5/10.
Reviewer: @ Nuno Traumas.
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