Um homem antiquado que preza os valores familiares, desposa viúvas ou divorciadas com filhos com o intuito de criar a família perfeita. Quando algum elemento dessa família não possui a mesma visão que ele, este apressa-se a criar uma nova identidade numa cidade diferente, para depois os massacrar por completo e de seguida, partir. Um ano depois dos últimos assassinatos, o psicopata que agora assume o nome de Jerry Blake (Terry O'Quinn) vive num agradável bairro dos subúrbios de Washington, trabalha como agente imobiliário e é casado com a viúva Susan (Shelley Hack), tendo como filha adoptiva a rebelde Stephanie (Jill Schoelen). Apesar de toda a aparente perfeição de Jerry como o novo chefe da família existe algo nele que suscita a desconfiança de Stephanie, acabando esta por o revelar ao seu psicólogo Dr.Bondurant (Charles Lanyer). Ao mesmo tempo, Jim Ogilvie (Stephen Shellen), irmão da última esposa-vítima do psicopata, inicia uma investigação por conta própria para o encontrar e assim se vingar do homem que massacrou a sua família. Conseguirá a nova família de Jerry Blake escapar sã e salva das mãos do Padrasto Assassino?
Terry O'Quinn é o Padrasto Assassino |
O realizador Joseph Ruben regressa ao mundo dos psicopatas depois do algo decepcionante "Dreamscape" ('84) neste thriller psicológico com elementos de horror, segundo um inteligente guião de Donald E.Westlake sobre a invasão de um homem mentalmente perturbado no seio de uma família ainda carente depois da morte do chefe da casa.
O filme funciona como uma crítica às aparentemente perfeitas famílias americanas, retratadas em diversas séries sobretudo durante os anos 50 como o "lar doce lar" ideal: uma casa com jardim onde não falta a casinha de madeira para os passarinhos; filhos bem comportados e estudiosos;
Steph (Jill Schoelen) & Susan (Shelley Hack) |
o indispensável cão-companheiro e as ocupações divididas da mulher como dona de casa e o homem trabalhando para sustentar a família com um emprego estável e bem inserido dentro da comunidade.
E são estes os princípios do personagem Jerry Blake, o padrasto assassino, ele próprio vítima de uma educação rígida e conservadora (provavelmente vítima de abusos ou de um lar desfeito, embora isso não seja expresso no filme),
movendo-se em adulto segundo os seus pretensos ideais na busca por uma família perfeita e não conseguindo os seus intentos, procura a família seguinte, apagando antes o seu rasto, incluindo livrar-se da família que não correspondeu aos seus critérios de perfeição.
Apesar de inventivo e perspicaz, o guião carece de humor negro e de uma certa subtileza para que funcione eficazmente como a sátira que pretende passar.
Como filme em si, a encenação de Joseph Ruben é no geral competente, dando um clima melancólico, mas ao mesmo tempo sinistro ao conjunto e apesar de vendido em certos mercados como um "horror slasher", "The Stepfather" insere-se melhor no sub-género thriller doméstico suburbano,
antecedendo a explosão do mesmo em inícios de 90's com "Sleeping with the Enemy" ('90) também dirigido por Joseph Ruben; "Pacific Heights" ('90); "Unlawful Entry" ('92) ou o bastante similar em ambiente "The Hand That Rocks the Cradle" ('92).
Analisado como um todo, "The Stepfather" talvez careça de uma certa intensidade para se revelar como um thriller eficaz, porque acaba por ser demasiado contido.
Embora a origem da psicose do Padrasto Assassino seja omitida do filme (seguindo a fórmula habitual deveria ter sido mostrada em forma de "flashbacks"), as suas motivações da busca pelo sonho americano e livrando-se de quem não partilha dos mesmos valores, são suficientes para satisfazer a curiosidade do espectador.
No capítulo das interpretações, o subestimado Terry O'Quinn, que passou grande parte da carreira como actor secundário aprimorando as performances dos actores principais com os quais contracenou, protagoniza na pele do perturbado Jerry Blake, num excelente desempenho que carrega com todo o filme nos ombros.
Do elenco secundário, ninguém especialmente se sobressai com Jill Schoelen (que aos 23 anos de idade interpreta aqui uma adolescente de 16) a ter alguns momentos bons em dualidade com outros onde se perde por uma performance quase amadora.
Em suma, "The Stepfather" embora lhe faltando uma certa dinâmica, é um bom filme para apreciadores do género e bastante inovador para a época, pois apesar de ter sido filmado em '86 tem um pendor visual, de narrativa e a nível do próprio ritmo, mais chegado ao cinema característico da primeira metade dos anos 90.
O sucesso moderado desta obra, originou uma sequela directa em '89 (ainda com Terry O'Quinn), um telefilme em '92 e finalmente, o remake / reboot em '09.
A título de curiosidade, este filme é baseado na história verídica do assassino em massa John List que nos anos 70, após matar a mãe, a mulher e os 3 filhos na sua casa em New Jersey, mudou de identidade e de Estado voltando a casar-se e a construir uma nova família, sendo somente capturado em '89 quando o seu retrato apareceu na televisão num programa dos assassinos mais procurados da América. Foi condenado a prisão perpétua onde viria a falecer em '08.
Género: Thriller / Mistério / Drama / Horror.
Fotografia: Côr.
País: Inglaterra / Canadá.
Duração: 89 minutos.
Trailer: http://www.youtube.com/watch?v=C6dg84FhA9k
Classificação: 7.5/10.
Reviewer: @ Nuno Traumas.
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