Depois da morte do marido, a viúva Corrine (Victoria Tennant) muda-se para o interior com os 4 filhos, os adolescentes Cathy (Kristy Swanson) e Christopher (Jeb Stuart Adams) e os pequenos gémeos Cory (Ben Ganger) e Carrie (Lindsay Parker) para a mansão dos pais onde foi deserdada quase duas décadas antes. Ao chegarem à sinistra propriedade, deparam-se com a austera e fanática religiosa Olivia (Louise Fletcher) que obriga as crianças a viverem no sótão da casa fechados a sete chaves para que o o marido doente não saiba da existência deles, revelando que foram fruto de incesto de Corrine com o próprio tio. A mãe convence-os a anuírem temporariamente ao sacrifício para poder se reconciliar com pai moribundo a tempo de herdar a sua enorme fortuna, mas quando as visitas vão escasseando assim como a alimentação essencial, os pequenos deparam-se com uma realidade aterradora, que a própria mãe os possa ter abandonado em prol do dinheiro...
Thriller psicológico baseado no best-seller de V.C.Andrews que chocou milhões de leitores, "Flowers in the Attic" foi uma adaptação que passou por diversas dificuldades até chegar ao grande ecrã.
Com um conteúdo chocante que envolve torturas, abusos a crianças e até mesmo incesto, a polémica foi lançada desde que foi anunciada a venda dos direitos do livro para uma longa-metragem com o realizador de culto Wes Craven a ser convidado para escrever o guião e dirigir o filme,
Os gémeos Cory (Ben Ganger) & Carrie (Lindsay Parker) |
mas mantendo-se fiel às suas origens da exploitation e do filme-choque o tratamento dado demasiado áspero, pesado e sexualmente explícito, afastou-o da corrida quando os produtores resolveram amenizar os efeitos da obra e produzirem um filme para uma faixa etária mais vasta e menos específica.
Corinne (Victoria Tennant) |
O argumentista Jeffrey Bloom foi então chamado para escrever um novo guião e apesar de menos rude e sórdido que o de Craven, tentou ao máximo respeitar a fonte sendo convidado para dirigir o filme, apesar da sua experiência ser num formato de realizador televisivo.
A escritora Virginia Andrews que já havia rejeitado alguns guiões propostos, deu o aval ao de Bloom e as filmagens de "Flowers in the Attic" finalmente arrancaram.
O resultado do produto final é um filme que retalha por completo o best-seller, afastando não só toda a história de incesto entre os dois irmãos mais velhos que crescem aprisionados no sótão,
Christopher (Jeb Stuart Adams) & Cathy (Kristy Swanson) |
como todas as torturas físicas e psicológicas infligidas pela avó e mãe são praticamente retiradas na totalidade, para dar lugar a uma obra politicamente correcta com o típico final hollywood completamente ofensivo em relação ao do livro.
Olivia (Louise Fletcher) |
Embora o ambiente seja efectivo, sinistro e depressivo na decrepita mansão Victoriana, evocando visualmente o estilo do horror gótico, a encenação é pobre a amadora em algumas sequências quebrando o clima.
As performances são na sua maioria demasiado exageradas e teatrais ao ponto do quase caricatural, afastando um lado mais realista que o filme pedia para sensibilizar ou chocar o espectador.
Contudo, a vencedora de um Oscar de Melhor Actriz por "One Flew Over the Cuckoo's Nest" ('75) Louise Fletcher é sólida como a austera Olivia, levando-nos a desprezá-la ao mesmo tempo que a malvadez do seu personagem nos fascina.
A mudança de Victoria Tennant da mãe presente e preocupada para uma herdeira fria e calculista ocorre em pouco espaço de tempo devido à montagem e a escassa duração do filme, tornando algo inverosímil e difícil de engolir, ainda mais quando a actriz a representa roboticamente ou como se tivesse sido hipnotizada.
Kristy Swanson, em início de carreira, parece interpretar uma Cinderela traumática versão peça da escola com Jeb Stuart Adams a entregar a melhor performance da parte das "crianças", apesar de o actor já contar 26 anos na altura.
As constantes mudanças no guião por parte dos produtores, fez o realizador Bloom abandonar a película quando lhe foi requisitado que alterasse o clímax do filme para um mais aprazível ao grande público, o que enfureceu também a actriz Victoria Tennant que abandonou o set de seguida.
Principalmente devido às alterações feitas, "Flowers in the Attic" estreou arrasado pela crítica especializada e apesar do moderado êxito de bilheteira, a continuação do enredo nos livros seguintes da escritora não receberam luz-verde do Estúdio e as adaptações ficaram-se, até à data, por este único filme.
Fãs acérrimos das obras de Virginia Andrews não só se mostraram enfurecidos com o tratamento hollywoodesco dado a uma poderosa obra literária, como por devido à ganância os restantes filmes da série terem ficado congelados, ansiando desde aí que um Estúdio pegue nos livros e num guionista e realizador competentes que façam a transição fiel para o cinema.
Em suma, "Flowers in the Attic" é o resultado daquilo que poderia ter sido sem a influência alheia, porque a nível de ambiente e cenários o filme cumpre, tudo o resto é pouco memorável com a obra a terminar a saber a pouco.
A título de curiosidade, o realizador afastado Wes Craven dirigiria 4 anos depois a sua versão não-oficial, mas obviamente baseada na obra de V.C.Andrews, "The People Under the Stairs" ('91) hoje em dia um filme-de-culto.
Género: Thriller / Mistério / Drama / Horror.
Fotografia: Côr.
País: E.U.A.
Duração: 93 minutos.
Trailer: http://www.youtube.com/watch?v=ko1AVSUUHss
Classificação: 6/10.
Reviewer: @ Nuno Traumas.
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