No dia 19 de Julho de 1987, durante a passagem do cometa Rea-M pela órbita da Terra, todas as máquinas ganham vida dispostas a aterrorizarem os seus criadores humanos. Um pequeno grupo de pessoas, incluindo o jovem cozinheiro Bill Robinson (Emilio Estevez), barricados num restaurante à beira da estrada em Wilmington na Carolina do Norte, cercados por ferozes camiões-cisterna que os pretendem aniquilar, tentam congeminar um modo de pôr fim à revolta das máquinas antes que as mesmas os destruam a eles...
Com o sucesso comercial obtido pelas adaptações das suas novelas ao cinema como "Carrie" ('76); "The Shining" ('80) ou "Christine" ('83), Stephen King resolveu aventurar-se pelo mundo da realização,
arranjando financiamento através do Estúdio DEG do produtor italiano Dino De Laurentiis para levar ao grande ecrã a sua pequena história "Trucks" incluída na antologia "Night Shift", transformada aqui em longa-metragem através de um guião do próprio King.
Se como escritor, Stephen King é um dos mais emblemáticos do género horror e suspense do século XX, como realizador deixa muito a desejar e "Maximum Overdrive" é a prova viva disso.
Emilio Estevez como Bill Robinson |
Afastando-se do lado mais sério da sua pequena história, King optou por uma abordagem mais ligeira e extrovertida dando um ambiente de quase paródia ao conjunto, tentando evocar um lado de horror mais "cheesy", mas que infelizmente não resultou aqui.
O enredo, reciclado de "Night of the Living Dead" ('68), limita-se a encher a duração do filme com situações pouco inspiradas que em nada avançam uma trama que já por ela própria não tem muito para onde ir; a direcção de actores é medíocre, com as próprias máquinas a terem mais desenvolvimento como personagens e carisma próprio do que todo o conjunto de humanos que actuam no filme em modo sonâmbulo;
a pouco competente edição de imagem faz certas sequências prolongarem-se para sempre, dando um ritmo algo enfadonho à obra e a grande maioria dos diálogos são simplesmente terríveis e um embaraço se comparados aos trabalhos literários do autor.
Contudo, alguma eficácia na encenação; um bom trabalho de câmara em algumas sequências e um certo lado satírico aliado às doses de humor negro medianamente introduzidas no conjunto, pendem a favor de King como realizador, caso aprimore o lado da direcção de actores e sobretudo, se filmar um bom guião.
O fracasso crítico e comercial de "Maximum Overdrive" levou Stephen King a se remeter unicamente para a escrita e nunca mais tentar a sorte na cadeira do realizador, admitindo mais tarde ter dirigido o filme aquando o seu vício em cocaína e nem se lembrar das filmagens do mesmo.
Bubba (Pat Hingle), Bill & Brett (Laura Harrington) |
Emilio Estevez, repete um género de personagem que desempenhou em "Nightmares" ('83); "Repo Man" ('84) ou "That Was Then... This Is Now" ('85), não acrescentando nada de novo e limitando-se a actuar no filme como se estivesse contractualmente obrigado a fazê-lo; o veterano Pat Hingle vai ao cúmulo do exagero caricatural como Bubba Hendershot, o desprezível dono do restaurante, cujo personagem tem um final à altura e o restante elenco, repleto de ilustres desconhecidos, fazem um concurso de qual deles entrega uma pior performance.
Cameo de Stephen King |
Stephen King, e como é habitual nos filmes baseados nas suas obras, participa num pequeno cameo, desta vez logo ao início do filme como o homem na caixa do Multibanco.
Uma das mais-valias de "Maximum Overdrive" é o conjunto de camiões utilizados para desempenharem as máquinas que ganham vida, destacando-se o White-Western Star 4800 com a máscara do Green Goblin, o arqui-inimigo de Spider-Man, colocado no pára-choques do camião, sendo a maioria deles gratuitamente destruídos para o filme.
A trilha sonora foi entregue à banda favorita de Stephen King, os reis do hard rock australiano AC / DC, cujo álbum "Who Made Who" foi lançado em Março de '86 como banda sonora deste filme, contendo os êxitos "You Shook Me All Night Long", "Hells Bells" e a "Who Made Who" que lhe deu o título.
A título de curiosidade, o óbvio amadorismo como realizador de Stephen King e o facto de estar fora de si durante a rodagem, resultou em diversos acidentes no set com o mais grave a originar a perda de um olho ao cinematógrafo Armando Nannuzzi que processou King posteriormente.
"Maximum Overdrive" foi nomeado para 2 Razzies em '87 nas categorias de Pior Realizador para King e Pior Actor para Emilio Estevez, mas foi considerado para Melhor Filme de Ficção Científica ou Fantasia no Fantasporto em '88.
Em suma, este foi um filme financiado para aprazer o ego de um dos escritores mais em alta na altura, mas que se não se saiu à altura do próprio desafio.
Fãs incondicionais dos anos 80 poderão ter curiosidade em assistir a esta miscelânea de comédia, acção, ficção científica, horror, fantasia e que ainda dá toques aos filmes-catástrofes característicos da década de 70 como "Earthquake" ('74),
mas o conjunto é tão mal dirigido e editado que se resume a uma trapalhada espalhafatosa de filme que em certas partes relembra outro megalómano fracasso comercial que foi o "1941" ('79) de Steven Spielberg.
Género: Ficção Científica / Acção / Horror / Comédia.
Fotografia: Côr.
País: E.U.A.
Duração: 97 minutos.
Trailer: http://www.youtube.com/watch?v=ggWS4tTzs60
Videoclip: http://www.youtube.com/watch?v=PiZHNw1MtzI
Classificação: 6/10.
Reviewer: @ Nuno Traumas.
Sem comentários:
Enviar um comentário