Luke (Jim Brown), escapa da Penitenciária e procura Jaroo (Lee Van Cleef), um pomposo prospector de ouro, ligado à tribo dos Apaches. O plano de Luke é usar a influência de Jaroo para convencer os Apaches a tornarem-se o seu exército pessoal para marcharem sobre El Condor, uma fortaleza construída no meio do deserto que reza a lenda contém milhões em barras de ouro mexicano armazenadas na sua cave, protegida pelo renegado General Chavez (Patrick O'Neal). O plano inicial começa a sair fora dos trilhos, quando o General aparenta ser mais perspicaz do que os dois aventureiros pensavam, ao mesmo tempo que Luke se começa a interessar pela amante de Chavez, a bela Claudine (Marianna Hill) e Jaroo se deixa dominar pela ganância da "febre do ouro"...
Com o sucesso da "Dollars Trilogy" ('64 - '66) de Sergio Leone que colocou o western spaghetti no mapa dos sub-géneros mais rentáveis de finais dos anos 60 e que transformou Clint Eastwood numa estrela de lista A em ambos os lados do Atlântico,
Lee Van Cleef como Jaroo |
o seu co-protagonista dos dois últimos filmes, o carismático Lee Van Cleef tornou-se bastante requisitado para inúmeras co-produções italianas de série-B,
bem como dos grandes estúdios de Hollywood que ironicamente seguindo a nova tendência do êxito destas películas de baixo orçamento que por não terem dinheiro para filmarem na América, transformariam a região de Almeria no Sul de Espanha numa mini-Hollywood para este género de produções, começaram a produzir os seus próprios westerns americanos nessa região, dando-lhe um visual e vibe "spaghetti", embora menos realistas e mais requintados devido ao dinheiro envolvido.
Jim Brown como Luke |
"El Condor", distribuído pela Warner Bros., surge na senda do êxito de "MacKenna's Gold" ('69) que uniu o western mais sombrio e violento, adaptando-se à explosão do novo género europeu, com a aventura épica de parceiros pouco prováveis unidos em busca de um tesouro incalculável.
Contudo, esta obra de John Guillermin (o futuro realizador do épico-catástrofe "The Towering Inferno" de '74), apesar de todo o ambiente de apelo à aventura; a panorâmica cinematografia clássica em Technicolor
e a soberba trilha sonora de Maurice Jarre que estabelece a disposição para o filme durante a sequência dos créditos iniciais na linha de um "The Comancheros" ('61), acaba por incidir demasiado na comédia para o seu próprio bem,
oferecendo-nos um conjunto de situações caricatas parecendo saídas de uma banda desenhada de Lucky Luke (como a expulsão dos dois aventureiros da cidade envoltos em piche e penas ou o desafio de Luke a Jaroo, que o logra para que este lute com o Bravo número 1 da tribo em vez dele),
Marianna Hill como Claudine |
mas ao mesmo tempo atreve-se a mostrar-nos cenas frontais de nu integral das belas e voluptuosas actrizes Imogen Hassall e Marianna Hill que o classificaram automaticamente como um filme para adultos.
Jim Brown, o afro-americano ex-estrela de futebol tornado actor como um dos condenados à morte em "The Dirty Dozen" ('67) e alcançando o estatuto de protagonista com "100 Rifles" ('69),
Cameo de Elisha Cook Jr. como o velho presidiário |
interpreta um dos primeiros heróis negros no começo de uma década cuja blaxploitation sairia das salas de cinema grindhouse para o cinema legítimo,
auxiliado por um Lee Van Cleef, aqui promovido a alívio cómico do filme, incorporando elementos da performance do seu colega Eli Wallach como Tuco no clássico "The Good, The Bad and The Ugly" ('66).
Brown comanda uma interpretação de herói canastrão, duro e robusto de modo competente, mas falta-lhe técnicas de representação e sobretudo aquele carisma de actor principal para conseguir carregar um filme aos ombros.
Van Cleef, um veterano do género e apesar do trabalho ingrato de co-protagonizar estando o foco inteiramente em Brown, rouba cada cena em que aparece como o alcoólico e ganancioso Jaroo e mesmo não estando na sua zona de conforto actuando como o "sério" e implacável assassino sem remorsos, é notório o divertimento do actor em cena a representar um tipo de papel mais descontraído e ligeiro.
A sequência de interacção entre Van Cleef e a pequena criança na aldeia é muito bem encenada e interpretada pelo bastante subestimado actor de quem Hollywood nunca soube dar o valor devido.
Patrick O'Neal como o General Chavez |
Patrick O'Neal oferece-nos um elegante vilão na forma de um General mexicano renegado que protege a sua fortaleza e os segredos que residem nela a todo o custo.
O guião não faz assim muito sentido, estando repleto de pontas-soltas e algumas falhas de continuidade, devido a ter sido reescrito pelo então jovem Larry Cohen (futuro criador da franchise "Maniac Cop" iniciada em '88) segundo a história original de Steven W.Carabatsos, quando os produtores resolveram que o orçamento investido na construção da gigantesca fortaleza no deserto de Almeria, devia dar frutos, alterando toda a acção para incidir mais nas situações relacionadas com o forte.
A título de curiosidade, esta fortaleza serviria como local de filmagens para diversos outros filmes, incluindo "A Reason to Live, a Reason to Die" ('72) ou o clássico de culto de John Millius "Conan the Barbarian" ('82).
Em suma, "El Condor" é um western de aventuras que fica muito aquém das suas principais influências como os já mencionados "Dollars Trilogy" e "MacKenna's Gold" ou o supra-sumo de inspiração para todo um ambiente e visual euro-western "Vera Cruz" ('54),
mas possui um certo charme no seu lado de acção ligeiro e divertido, tendo ele próprio aberto caminho para o "buddy flick" que conheceria o seu apogeu nos anos 80, bem como algumas sequências deste filme foram recicladas por algumas das pérolas dessa década
como "The Jewell of the Nile" ('85) ou "Firewalker" ('86), com este último a ser bastante semelhante a nível de enredo, ritmo, visual e personagens. Recomendado para uma sessão da tarde de western à moda antiga!!
Género: Acção / Aventura / Western / Comédia.
Fotografia: Côr.
País: E.U.A.
Duração: 102 minutos.
Trailer: https://www.youtube.com/watch?v=eKGF4rnlZYU
Classificação: 7.5/10.
Reviewer: @ Nuno Traumas.