Nick Halloway (Chevy Chase) é um solitário, mas porém pomposo yuppie que acidentalmente se torna invisível, depois de um acidente inexplicável num laboratório onde foi assistir a um seminário. Quando David Jenkins (Sam Neill), um agente da C.I.A. pouco ortodoxo, toma conhecimento do sucedido vê em Nick o potencial espião perfeito, tentando recrutá-lo para a sua equipe, não tendo quaisquer intenções de ajudá-lo a voltar ao normal. Sozinho e desamparado, a única esperança de Nick reside em Alice Monroe (Darryl Hannah), uma escultural activista loira, que conheceu na noite anterior e por quem se apaixonou à primeira vista. Juntos irão viver um romance fora do vulgar, ao mesmo tempo que congeminam um plano de por fim às segundas intenções de Jenkins, que lidera um grupo de homens que pretendem capturar o homem invisível a todo o custo...
Depois de ter filmado "Prince of Darkness" ('87) e "They Live" ('88) no cinema independente, Carpenter regressou a um grande Estúdio, após um interregno de 4 anos afastado das lides cinematográficas,
a convite da Warner Bros. para dirigir este "Memoirs of an Invisible Man" baseado na novela de H.F.Saint de '87, substituindo o director original Ivan Reitman que ao entrar em desacordo sobre o tom do filme com o protagonista Chevy Chase, desistiu da película.
Como projecto já em andamento, desenvolvido por Chevy Chase; o guionista William Goldman e os produtores liderados por Arnon Milchan, Carpenter retirou o seu habitual "John Carpenter's" pré-título do filme nos créditos iniciais,
pois sabia que nunca teria a hipótese de total controlo artístico sobre a obra, limitando-se assim a dirigi-lo em modo tarefeiro, como forma de regresso a um orçamento maior e também para poder financiar o seu futuro "In the Mouth of Madness" ('94) que completaria a sua trilogia do Apocalipse, iniciada com "The Thing" ('82).
Apesar de não ser a sua visão, nem um dos "seus" filmes, é notável o cuidado de John Carpenter na direcção do mesmo, entregando-nos um misto de comédia, drama, acção e ficção científica,
e que mesmo sofrendo de uma crise de identidade no que toca a não saber se deve incidir mais na seriedade (o lado triste e solitário de um homem invisível) ou na paródia (nas certas situações caricatas em que Halloway se vê metido), consegue-nos mostrar as duas faces da moeda da aquisição acidental da tão fantástica condição.
Darryl Hannah como Alice Monroe |
Chevy Chase como Nick Halloway |
com Chase ao melhor género do seu Clark Griswold da franchise "Vacation" (iniciada em '83) e um lado mais dramático de um personagem tornado atracção bizarra em fuga pela cidade, perseguido por uma horda de gananciosos agentes que o vêem como um experimento.
Sam Neill como o Agente David Jenkins |
Sam Neill, na sua primeira colaboração com Carpenter, está muito bem como o vicioso Agente David Jenkins e Darryl Hannah, que nunca foi uma grande actriz, dá o ar da sua (des)graça como a loira bimbo num papel sem grande profundidade.
Michael McKean de "Spinal Tap" ('84) e "Airheads" ('94) interpreta o usual personagem imbecil e pedante que o actor domina na perfeição.
Todas as sequências de exteriores, na sua maioria filmadas em São Francisco, estão bem dirigidas por Carpenter, fazendo-se valer da escuridão da noite para dar o seu toque de sinistralidade ao filme
e os efeitos especiais da Industrial Light & Magic, estão fantásticos para a altura e ainda dignos de registo e por assim dizer, muito mais precisos e realistas do que o pouco inspirado CGI usado até à exaustão nos dias de hoje.
Outras das mais-valias do filme, realçando a criatividade de Carpenter dada ao conjunto, foi o ter mostrado fisicamente Chevy Chase, aquando visto na primeira pessoa, para não confundir a audiência sobre o que o personagem estaria a fazer em determinado momento
e dando azo assim a que o actor possa aparecer mais vezes em cena e o público poder seguir o seu lado emocional a desgastar-se, através da sua expressão facial.
As homenagens ao clássico da literatura de H.G.Wells e a sua adaptação ao cinema mais famosa, "The Invisible Man" ('33) dirigido por James Whale com Claude Rains, estão presentes,
especialmente na cena em que Chevy Chase revela a sua invisibilidade a Darryl Hannah, usando o mesmo tipo de indumentária, ligaduras e uns grandes óculos escuros do personagem Griffin da obra original.
O artifício da narrativa de contar a história em flashback é reminiscente do anterior "Big Trouble in Little China" ('86), ironicamente também um dos poucos filmes de John Carpenter que incidiu em comédia.
"Memoirs of an Invisible Man" estreou em '92 arrasado pela crítica, acabando por se tornar um fracasso de bilheteira, pois não agradou aos fãs acérrimos do realizador devido a ser demasiado contido, ligeiro e extrovertido
e nem aos fãs de Chevy Chase, por em contrapartida não ser mais uma comédia de situação habitual da filmografia do actor.
Perdido numa espécie de limbo cinematográfico desde aí, este é um filme que deve ser revisto e apreciado pelo que é, excluindo dele todos os rótulos relacionados, e usufruir de uma obra virada exclusivamente para o entretenimento que apesar de longe de ser perfeita, merece mais do que o destino que lhe foi dado na altura de "morto à chegada"...
Género: Comédia / Ficção Científica / Thriller / Romance.
Fotografia: Côr.
País: E.U.A. / França.
Duração: 99 minutos.
Trailer: http://www.youtube.com/watch?v=eEeHNzGFMZo
Classificação: 7.5/10.
Reviewer: @ Nuno Traumas.
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