A cidade de Midwich na Califórnia é envolvida num "apagão" sobrenatural, causando uma letargia profunda em todos os habitantes, tornando a cidade incontactável do mundo exterior. Uma epidemiologista do F.B.I. Dr.Susan Verner (Kirstie Alley) é convocada para determinar a causa, estabelecendo um perímetro de segurança nos limites da cidade. Horas depois, todos despertam aparentemente bem, mas 2 meses depois 10 mulheres da cidade aparecem grávidas a que o Dr.Alan Chaffee (Christopher Reeve) determina ter sido concebido durante o misterioso fenómeno. O facto mais preocupante é o da adolescente Melanie Roberts (Meredith Salenger) garantir ser virgem, sendo impossível ter sido fecundada naturalmente. A estranha ocorrência resulta numa nova raça de crianças de textura de cabelo platinado, olhos penetrantes e unhas estreitas fora do vulgar, que cedo demonstram ter uma inteligência acima da média, bem como o poder mental de sugestão e telepatia, que pela qual comunicam uns com os outros e sobretudo, a capacidade de ler os pensamentos.
Se ao início a Dr.Verner e o Dr.Chaffee, se dedicam ao estudo de entenderem esta suposta evolução da espécie, quando uma alta percentagem de suicídios começa a atingir a outrora pacata cidade, descobrem que a missão destas crianças na Terra não é somente co-existirem, mas sim sobreviverem a todo o custo para se tornarem a nova raça dominante...
Hillary Harvey como Mara, 1 ano de idade |
O Mestre do Suspense John Carpenter regressa ao cinema financiado por um grande Estúdio, depois de uma temporada no cinema independente, com este remake do clássico homónimo dirigido por Wolf Rilla em '60 baseado na novela "The Midwich Cuckoos" de John Wyndham lançada em '57.
Barbara Chaffee (Karen Kahn) |
O guião de David Himmelstein afasta-se da história original, movendo a acção da pequena comunidade do Norte de Inglaterra para uma cidade costeira da Califórnia da actualidade,
ao mesmo tempo que injecta novos artifícios no enredo como a presença de um nado morto e da suposta humanidade de uma das crianças que ousa questionar a carência de emoções do resto do grupo.
O que essa particularidade interessante possa ter aperfeiçoado a história no sentido de introduzir algo de novo ao invés de ser uma cópia exacta do original, perde na parte da atmosfera de mistério que funcionava em pleno com a acção localizada numa pequena aldeia isolada nos anos 60,
Robert (Cody Dorkin) |
mas que falha na tentativa de captar as mesmas vibes, transpondo para uma Califórnia dos anos 90, em que o facto de as crianças usarem uma farda clássica igual era um código rígido relativo daquela época e totalmente fora do lugar para uma Califórnia actual.
Julie (Trishalee Hardy) |
A direcção de Carpenter é pouco inspirada no geral, excepto em alguns peculiares planos de câmara em que se acende a chama de um dos mais inventivos directores vindos dos anos 70 e o tiroteio final que tem por completo o seu carimbo pessoal.
Drª Susan Verner (Kirstie Alley) & Reverendo George (Mark Hamill) |
O ritmo é demasiado inerte, estando repleto de cenas desnecessárias e a edição de imagem é sofrível q.b. parecendo o filme um apanhado de sketches interligados sem um fio condutor da acção conciso, carecendo assim de uma certa dinâmica.
Apesar da cinematografia ser por vezes interessante, o visual do filme é pobre em relação ao orçamento acima da média envolvido, especialmente a nível dos cenários, parecendo mais uma obra em formato de telefilme do que uma longa-metragem para cinema.
A adição de violência gratuita nas mortes para mostrar algum gore foi uma má decisão do realizador, carecendo da subtileza horrífica que caracterizou a obra original e que aqui só ajuda a acentuar um lado "barato" que transparece por todo o filme.
No capítulo das performances, John Carpenter, como é o seu costume, conseguiu juntar um curioso elenco de estrelas que já tinham perdido grande parte do brilho por altura do meio dos anos 90, mas que nem por isso a sua qualidade de representação tenha sido afectada.
Christopher Reeve como Dr.Alan Chaffee |
Christopher Reeve, no seu último papel pré-acidente que o deixou tetraplégico e que o levou à morte poucos anos depois, protagoniza sobriamente na pele do Dr.Alan Chaffee a braços com a ameaça interna na sua comunidade,
ao lado de uma elegante e confiante Kirstie Alley, que apesar da sua performance poder parecer um anúncio comercial a uma marca de cigarros, é certamente um dos seus melhores papéis em cinema.
Linda Kozlowski como Jill McGowan |
Linda Kozlowski, mais conhecida pelo seu papel de Sue Charlton em "Crocodile Dundee" ('86) e as suas sequelas, prova aqui ser uma actriz competente e capaz de ter abraçado outros projectos, se Hollywood não a tivesse subestimado devido às parcerias em comédia com o seu marido na altura, Paul Hogan.
Meredith Salenger como Melanie Roberts |
Mark Hamill cabotina na pele do Pároco da vila; a criança-actor Meredith Salenger tornada uma voluptuosa e bela mulher-adulta interpreta uma personagem cerca de 10 anos mais nova;
George "Buck" Flower como Carlton |
os usuais actores de Carpenter, Peter Jason e George "Buck" Flower interpretam os seus estereótipos e o outrora bem-parecido e herói de acção, Michael Paré surge numa curta aparição lhe dada em favor pelo amigo John Carpenter,
Michael Paré como Frank McGowan |
com quem trabalhou no criminalmente pouco apreciado "The Philadelphia Experiment" ('84), embora o seu papel não tenha qualquer tipo de relevância para o enredo.
A escolha de Reeve / Superman; Hamill / Luke Skywalker e se alargado ao cinema-de-culto Paré / Tom Cody de "Streets of Fire" ('84) foi uma escolha perspicaz de elenco, como se uma forma de dizer ao espectador que nem estes heróis icónicos e lendários conseguem derrotar esta nova raça de crianças malignas.
Lindsey Haun como Mara Chaffee |
Destaque para Lindsey Haun como Mara Chaffee, a líder das crianças, numa performance arrepiante que rivaliza inclusive com Martin Stephens como David Zellaby da obra original.
O resto das crianças foram igualmente uma excelente escolha de elenco, estando no geral bem dirigidas.
Em suma, "Village of the Damned" não é um mau filme e tem os seus momentos, mas esperava-se muito mais do realizador envolvido neste remake depois do fantástico "The Thing" ('82) que ultrapassou por completo a obra original.
Thomas Dekker como David McGowan |
Devido a alguns fracassos de filmes seus, ridiculamente pouco apreciados pelo público e crítica que congelaram a carreira de Carpenter em Hollywood a meio dos anos 80 e o fizeram regressar ao cinema independente de baixo orçamento aonde se estreou com "Dark Star" ('74), fizeram com que pelo meio,
Barbara & Alan, Callie Blum (Constance Forslund) & Jill |
o realizador tenha perdido parte do seu toque e a mesma vontade em dirigir ou implementar a sua visão sem interferência do Estúdio e "Village of the Damned" é o resultado disso, uma obra que empalidece se comparada a autênticos clássicos de culto seus como "Halloween" ('78) ou "The Fog" ('80),
pois um dos pontos negativos mais aparentes nesta película é a sua quase total ausência de um ambiente de suspense eficaz, que era a imagem de marca deste outrora grande cineasta.
Género: Horror / Thriller / Ficção Científica.
Fotografia: Côr.
País: E.U.A.
Duração: 99 minutos.
Trailer: http://www.youtube.com/watch?v=0WzcW9haPto
Classificação: 6.5/10.
Reviewer: @ Nuno Traumas.
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