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quinta-feira, 28 de novembro de 2013

The Lost Continent a.k.a. The People of Abrimes (1968)

"O Continente Esquecido" de Michael Carreras (& Leslie Norman) com Eric Porter, Hildegarde Knef, Suzanna Leigh, Tony Beckley, Nigel Stock, Neil McCallum, Benito Carruthers, Jimmy Hanley, James Cossins, Dana Gillespie, Michael Ripper, Darryl Read & Eddie Powell.

O Transatlântico Corita parte de Freetown na Serra da Leoa em direcção a Caracas, sob a liderança do Capitão Lansen (Eric Porter), fugindo às inspecções alfandegárias devido a uma carga de explosivos que leva ilegalmente no porão e um grupo de passageiros pouco ortodoxos que pretendem deixar a cidade sem serem vistos. Quando são informados de condições atmosféricas adversas, o Capitão ordena ao Primeiro Imediato Hemmings (Neil McCallum) que reúna os passageiros e que os mesmos decidam se querem voltar a Freetown, a que todos recusam apesar do perigo, mas depois de o porão alagar e com a eminente descarga dos explosivos, grande parte da tripulação amotina-se e abandonam o Corita. Para fugirem ao mau tempo, o Capitão traça uma rota alternativa pelo Mar dos Sargaços, perdendo-se no nevoeiro e indo desembocar a uma estranha ilha, rodeada de algas comedoras-de-homens e habitada por uma raça de monstruosos caranguejos gigantes e um grupo de descendentes de conquistadores espanhóis perdidos no tempo que pensam que a Inquisição ainda existe...




União da americana Seven Arts Productions com a lendária Hammer Films inglesa, "The Lost Continent" é um épico de aventuras de fantasia e horror de baixo-orçamento, segundo um guião de Michael Carreras, 








baseado na novela de Dennis Wheatley "The Uncharted Seas" lançada em '38, que também produziu e tomou as rédeas da direcção, após a desistência do realizador original Leslie Norman. 












Considerado uma das mais infames obras saída do Universo da Hammer, devido à sua pouco convencional estrutura do enredo e a uns efeitos especiais e de caracterização já datados para a altura, 







é apesar disso um dos seus filmes mais imaginativos e fora do comum, pautando-se por um incrível visual surrealista e conceptual e sobretudo, por todo um conjunto pleno de criatividade.








A história parte do lado verídico do Mar dos Sargaços, nome dado pelos marinheiros portugueses durante os Descobrimentos, sobre uma região marítima alongada no meio do Atlântico Norte, 







cercada por fortes correntes oceânicas e contendo milhares de algas à sua superfície que retardavam o avanço dos navios e devido à total ausência de vento, era comum diversas embarcações encalharem e desaparecerem no Oceano. 






Com a proximidade ao Triângulo das Bermudas, diversas lendas surgiram sobre a possibilidade de monstros marítimos naquela área, tornando-se o Mar dos Sargaços conhecido como um cemitério de navios. 











Michael Carreras constrói assim a sua epopeia dividindo o filme em 3 partes distintas, começando como uma espécie de "Love Boat" em ácidos, com um grupo de personagens que roçam a histeria colectiva, 








Eric Porter como o Capitão Lansen

envolvidos em situações controversas como um médico de conduta profissional bastante duvidosa e a sua ninfomaníaca filha ou um vigarista alcoólico em fase de transição, liderados por um duro e rude Lobo do Mar que pretende infligir a Lei para ter dinheiro para se aposentar.





Com o naufrágio eminente devido a todas as situações adversas, a obra toma um rumo de filme-catástrofe que se tornaria popular na década seguinte, especialmente com "The Poseidon Adventure" ('72), tomando contornos em seguida de um "survival movie" com a restante tripulação a lutar pela sobrevivência a bordo de um pequeno bote, 





culminando numa das mais estranhas reviravoltas de sempre, quando o grupo encontra a ilha misteriosa e a obra se transforma numa alucinante fantasia surreal envolvendo monstruosos caranguejos gigantes, espessas algas vivas que se alimentam de carne humana 




El Supremo (Darryl Read) e o Grande Inquisidor (Eddie Powell)

e um grupo de descendentes de conquistadores espanhóis, liderados por uma criança que se auto-intitula o El Supremo sobre a influência de um tirânico Grande Inquisidor, que vivem como se ainda estivessem no século XV. 







Tyler (Tony Beckley), Nick (James Cossins), Patrick (Jimmy Hanley)

A súbita e surpreendente mudança de género influenciou diversos outros filmes sendo "From Dusk Till Dawn", dirigido por Robert Rodriguez em '96, um dos mais notórios. 









No capítulo das performances, o papel do Capitão Lansen e do Grande Inquisidor foram feitos à medida para os dois mais famosos actores regulares da Hammer: Peter Cushing e Christopher Lee, que por motivos alheios acabaram por não participar na película sendo substituídos por Eric Porter, firme e decidido na pele do Capitão 





e Eddie Powell, um dos duplos por detrás dos futuros "Alien" ('79) e a sua sequela, no pequeno mas marcante papel do Grande Inquisidor. 










Suzanna Leigh como Unity Webster

A belíssima e estonteante Suzanna Leigh rouba cada cena em que aparece como a ninfomaníaca Unity Webster, mas a sua personagem acaba por perder o foco no III Acto quando a voluptuosa Dana Gillespie que interpreta Sarah, uma das nativas da ilha, surge na trama.





Com um lado artístico soberbo dado o orçamento, com especial destaque para a construção dos cenários, o guarda-roupa e a intensa cinematografia de Paul Beeson em tons de sépia que tornam o conjunto visualmente alucinante, 







esta obra ainda se torna mais excêntrica ao colocar nos créditos iniciais um tema do trio pop inglês The Peddlers, numa tentativa desnecessária de introduzir um lado kitsch num género que não lhe era pedido.









Em suma, "The Lost Continent" é uma viagem bizarra a um universo fantástico e aberrante de uma das melhores produtoras de cinema do género, em que efeitos especiais cheesy q.b. encontram um "monster movie" 








numa narrativa imersa num mundo dos sonhos como se um Terry Gilliam filmasse um "Moby Dick" com "Mutiny on the Bounty" e o sub-género "death cult" à mistura, regado com o imaginário dos clássicos da literatura de Júlio Verne como "The Mysterious Island" e aquele peculiar toque teatral sinistro característico da Hammer Films. Recomendado!!



Género: Aventura / Fantasia / Horror / Ficção Científica. 

Fotografia: Côr.

País: Inglaterra.

Duração: 89 minutos.

Trailer: https://www.youtube.com/watch?v=-QU_vvHKuyQ

Classificação: 8/10.

Reviewer: @ Nuno Traumas.


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