Alex (David A.Hess) é um mecânico psicopata que viola e mata uma mulher perto de um parque durante a noite. No dia seguinte, um jovem casal de "yuppies" ricos: Tom (Christian Borromeo) e a elegante Lisa (Annie Belle) param na sua oficina devido a um problema no carro. Enquanto o colega de Alex, Ricky (Giovanni Lombardo Radice) que tem um pequeno atraso, concerta o carro, Lisa comenta que vão para uma festa privada na vivenda luxuosa de uns amigos a que ambos os mecânicos se fazem convidados. Ao chegarem deparam-se com um grupo "kitch" constituído pela excêntrica Glenda (Marie Claude Joseph), o arrogante Howard (Gabriele Di Giulio) e a bela Gloria (Lorraine De Selle) por quem Ricky desenvolve uma atracção imediata. Enquanto o grupo snob se diverte a zombar da deficiência de Ricky e a devassa Lisa provoca Alex, o seu lado psicótico vem à tona iniciando assim uma noite de tortura, humilhação e violação aos seus anfitriões, mantendo-os como reféns na sua própria casa...
Pela mão do Mestre do Choque italiano, Ruggero Deodato, realizador do infâme "Cannibal Holocaust" que estreou no mesmo ano, "La casa sperduta nel parco" é um thriller recheado de violência física e psicológica na linha do cinema extremo da "exploitation" que teve o seu "boom" durante a década do liberalismo nos anos 70.
O primeiro crime |
Críticos apontam-no como a versão "trashy" italiana do primeiro filme de Wes Craven "The Last House on the Left" ('72), sobretudo porque o actor principal David A.Hess interpreta praticamente aqui
Alex (David A.Hess) & Lisa (Annie Belle) |
o mesmo papel que no citado, mas esta obra de Deodato ultrapassa a sua principal influência entregando-nos um filme mais conciso, mais violento e visualmente muito mais impressionante.
A chegada à festa |
Como um maestro, o realizador conduz a tensão presente num clima de puro horror devido ao lado realista da situação, em que seguimos o alucinado Alex na sua demanda de confronto com os seus reféns,
que resultam em actos desprezíveis de humilhação e espancamento, de sadismo e violação e do controle mental sobre os mais fracos quando mexendo com a cabeça do desequilibrado Ricky, incita-o a que se junte a ele.
Reféns... |
Certas cenas podem ferir a sensibilidade dos mais fracos, sobretudo se visto na sua versão "uncut" e apesar de ser mais leve que "Cannibal Holocaust" devido à inexistência de gore,
o clima pesado e arrastado; a atmosfera claustrofóbica e assustadora de que poderia acontecer na realidade; o explícito da tortura infligida, especialmente às mulheres e as cenas de nudez e sexo que entram directamente para uma classificação X-rated de "soft-core"
Tom (Christian Borromeo) |
fazem de "La casa sperduta nel parco" um dos supremos filmes-de-culto de um cinema extremo sistematicamente incompreendido e condenado pela crítica especializada, mas um fenómeno dentro das obras obscuras da sub-cultura do "grindhouse".
O elenco é repleto de caras conhecidas deste género de cinema, interpretando convincentemente os seus personagens, destacando-se David A.Hess como o sórdido e execrável Alex, papel que domina como uma luva e que se tornou o seu estereotipo;
as belas actrizes vindas do cinema erótico Annie Belle e Brigitte Petronio; Lorraine De Selle (Umberto Lenzi's "Cannibal Ferox" de '81); Christian Borromeo (Dario Argento's "Tenebrae" de '82)
Ricky (Giovanni Lombardo Radice) |
e especialmente, Giovanni Lombardo Radice ("Paura nella città dei morti viventi" de '80 e "Cannibal Ferox" de '81) que se estreava aqui como actor, dando uma memorável performance como Ricky.
Gloria (Lorraine De Selle) |
O guião de Gianfranco Clerici e Vincenzo Mannino é rotineiro, apenas dando o suficiente como pano de fundo para os seus personagens avançarem (David A.Hess escreveu a maioria das suas falas, assim como em certas sequências é patente o improviso dos actores em cena ) e Deodato impor a sua visão artística.
Cindy (Brigitte Petronio) |
Falha porém na tentativa gratuita da reviravolta final, que explica porque a maioria dos tornados reféns assistem impávidos a toda a situação de violência criada, quando poderiam ter fugido facilmente a dado momento, forçando o espectador a uma forte suspensão da descrença para aceitar esse artifício do enredo.
Em suma, e deixando de lado os minutos finais, "La casa sperduta nel parco" é uma viagem assustadora ao mais sombrio da mente humana, solidamente dirigido por um realizador que já teve que se explicar em tribunal pelo conteúdo extremo e excessivo dos seus filmes.
Para sempre polémico e com a qualidade do seu cinema questionada desde sempre, com alguns a apelidarem-no de "puro lixo cinematográfico" e outros elogiando a sua capacidade visual única e de construir verdadeiros ambientes aterrorizantes,
Ruggero Deodato é dos mais desprezíveis e ao mesmo tempo fascinantes realizadores que o cinema "exploitation" já teve. Não sendo uma obra original, com "A Clockwork Orange" ('71) de Stanley Kubrick , o já mencionado "The Last House on the Left" ou "Day of the Woman" ('78),
a já terem abordado uma temática parecida, é na mesma um efectivo filme-de-culto do género que inspirou entre outros o sucesso de Michael Haneke "Funny Games" ('97).
Recomendado somente para fãs do cinema "trash" que suportem bem violência física e psicológica e sobretudo que sejam fortes de estômago, porque este filme (e o seu género de cinema) não é para todos...
Género: Thriller / Horror.
Fotografia: Côr.
País: Itália.
Duração: 91 minutos.
Trailer: http://www.youtube.com/watch?v=M-Hq14TGCgE
Classificação: 8/10.
Reviewer: @ Nuno Traumas.
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