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quarta-feira, 31 de julho de 2013

Sleepy Hollow (1999)

"A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça" de Tim Burton com Johnny Depp, Christina Ricci, Miranda Richardson, Michael Gambon, Casper Van Dien, Jeffrey Jones, Richard Griffiths, Ian McDiarmid, Michael Gough, Marc Pickering, Lisa Marie, Steven Waddington, Alun Armstrong, Ray Park, Christopher Lee, Martin Landau & Christopher Walken.

1799. Nova Iorque. Na viragem do século nos primórdios dos E.U.A., o jovem polícia Ichabod Crane (Johnny Depp) cujos métodos avançados para a resolução dos crimes são vistos com maus olhos pelo Burgomestre local (Christopher Lee), é enviado a norte para a isolada comunidade holandesa de Sleepy Hollow, para resolver os estranhos assassinatos de 3 cidadãos influentes, incluindo Peter Van Garrett (Martin Landau), o proprietário de terras mais rico da cidade, que foram encontrados sem cabeça. Os locais referem a lenda local de um fantasmagórico cavaleiro sem cabeça (Ray Park / Christopher Walken) como responsável pelos assassinatos, mas no decorrer da investigação o céptico Ichabod começa a desconfiar que alguém do conselho da cidade poderá estar por detrás dos assassinatos, sobretudo quando se apercebe duma misteriosa conspiração que envolve o legítimo herdeiro das terras, 




Baltus Van Tassel (Michael Gambon) casado em segundas núpcias com a enfermeira (Miranda Richardson) da falecida mulher; o cirurgião Lancaster (Ian McDiarmid); o Magistrado Philipse (Richard Griffiths); o notário Hardenbrook (Michael Gough) e o Reverendo Steenwyck (Jeffrey Jones). 






Johnny Depp como Ichabod Crane

Tendo apenas como amigos, o pequeno Masbath (Marc Pickering), órfão de uma vítima do cavaleiro e a bela Katrina (Christina Ricci), filha de Von Tassel, por quem se começa a apaixonar, Ichabod terá de usar todo o seu poder de dedução e inclusive recorrer à ajuda do sobrenatural para resolver tão enredado mistério...




Livremente inspirado na pequena história escrita por Washington Irving em 1820, "Sleepy Hollow" é um conto de horror gótico de mistério com elementos do sobrenatural dirigido por Tim Burton que presta aqui homenagem às suas principais influências como os filmes da britânica Hammer Studios; 




Christopher Lee como o Burgomestre

o clássico "The Wicker Man" ('73) e a todo o cinema da Era dourada de horror italiano do mestre Mario Bava, convocando o lendário Christopher Lee para um pequeno papel secundário que serve como elo comum a todas as influências citadas. 







Visualmente e artisticamente, e como é hábito no cinema de Burton, "Sleepy Hollow" é fantástico, da criação e decoração dos sombrios cenários, vencedores de Oscares, ao guarda-roupa, nomeado para um Oscar,






à qualidade da sinistra cinematografia de Emmanuel Lubezki, também nomeado, que produz um efeito monocromático dando uma aura arrepiante de mistério no ar e culminando com a assombrosa trilha sonora de Danny Elfman que volta a colaborar com Burton depois do desentendimento de ambos durante a rodagem do "A Nightmare Before Christmas" ('93), nada é deixado ao acaso,




excepto que depois de um excelente e sem-falhas "Ed Wood" ('94) e sem sequer se considerar o medíocre "Mars Attacks!" ('96) pelo meio, Burton volte a cair nos mesmos erros bastante notórios dos seus "Batman" ('89 e '92), nomeadamente nos problemas do guião, direcção de actores e sobretudo, da deficiente supervisão na parte da montagem.




"Sleepy Hollow" tem um bom começo, criando grandes expectativas nos primeiros minutos da película, depois de uma boa sequência inicial que introduz o clima do filme, na tal piscadela do olho aos clássicos da Hammer, até à chegada do personagem Ichabod Crane à comunidade isolada que não lhes apraz muito a presença de estranhos, em ecos do "The Wicker Man", 




resume-se a uma criação sóbria e competente de um ambiente obscuro cruzando-se com o irreal do "algo estranho paira no ar" o qual Burton perde por completo o tino depois da primeira investida do cavaleiro, que tem logo um grave erro de continuidade devido a uma séria desatenção na montagem ou falta de estrutura do guião. 




O argumento de Andrew Kevin Walker sujeito a várias revisões ao longo do tempo, torna-se demasiado formulaico, difuso e pouco coerente no avançar da trama com o desenvolvimento e motivações dos personagens, que seriam a alma de um filme deste género, a serem quase nulos



Ray Park interpreta o Cavaleiro Sem Cabeça nas cenas de acção

concentrando-se mais nas súbitas aparições do cavaleiro que quase em formato de videojogo, persegue desenfreadamente para decapitar personagem atrás de personagem. 








Aos "flashbacks" que somos levados enquanto Ichabod sonha, relembrando os traumas de infância quando a sua mãe, interpretada pela actriz Lisa Marie, companheira de Burton na altura, foi condenada à tortura na "donzela de ferro" devido aos caprichos do marido ultra-conservador religioso,




Lisa Marie como Lady Crane

são homenagens ao cinema de Mario Bava, especialmente numa certa cena que lembra a "Rainha de todas as Rainhas do Grito" Barbara Steele no clássico-de-culto "La Maschera Del Demonio" (também conhecido por "Black Sunday") de '60, mas "Sleepy Hollow" está longe de conseguir criar uma atmosfera arrepiante digna daqueles em que se inspira. 





Para não ser criticado por se desviar muito do material de origem, Burton sorrateiramente introduz uma cena do clássico de animação da Disney estreado em '49, "The Adventures of Ichabod and Mr.Toad" embora pareça não se importar muito com tudo o resto. 







No capítulo das performances, Johnny Depp, na sua terceira colaboração com Burton, ora cria um personagem interessante, uma espécie de Sherlock Holmes cheio de gadgets despertando a curiosidade de todos em volta,





ou torna-se inadequado de se seguir quando vira o seu desempenho de medroso para picuinhas ao exagero, parecendo estar a actuar num papel e filme diferentes. 














Christina Ricci como Katrina Van Tassel

Christina Ricci é caso óbvio de actriz errada para o papel, em momento nenhum convence como a bela e misteriosa Katrina, carecendo da expressividade necessária, sendo demasiado apagada e informal.







Christina aparenta estar mais em modo de divertimento com Johnny Depp, de quem se tornou amiga próxima ainda criança durante as filmagens de "Mermaids" ('90) na altura em que Depp namorava Winona Ryder, do que a dar vida a uma lady clássica com a proficiência pedida para se tornar credível. 




Christopher Walken como o Cavaleiro de Hesse

O elenco secundário recheado de bons actores da habitual "entourage" de Burton, cumprem com a direcção que lhes é dada, destacando-se os cameos não creditados de Christopher Walken ("Batman Returns" de '92) como o feroz cavaleiro e Martin Landau que aparece como agradecimento ao realizador, depois de ter conquistado o Oscar de Melhor Actor Secundário por "Ed Wood" ('94) 



Miranda Richardson como Lady Van Tassel

e ainda Jefrrey Jones ("Beetlejuice" de '88 e também de "Ed Wood"); um quase irreconhecível Michael Gough (o mordomo Alfred dos "Batman") que saiu da reforma para uma pequena participação de favor a Tim Burton; uma deliciosa Miranda Richardson espalhando requintes de malvadez e o sempre interessante Michael Gambon. 




Casper Van Dien como o valente Brom Van Brunt

Um esforçado Casper Van Dien tem o ingrato (e curto) papel do valente Brom, cuja grande parte da sua performance foi editada fora do filme.










Em suma, com "Sleepy Hollow", Tim Burton regressou ao estigma do "estilo sobre substância" focando-se demasiado na criação dos visuais, esquecendo-se de pelo meio rever o argumento demasiado artificial e pouco conciso e por conseguinte, 





a falta de leme na direcção que tornou uma potencial ressurreição do clássico de horror atmosférico num típico filme da pipoca.








Estes problemas mais notórios não afectaram tanto os seus "Batman" porque acabam por ser simples adaptações de "comic books" e vêem-se bem por aquilo que são, 









ao passo que adaptar uma obra de mistério como "Sleepy Hollow" e fazer as óbvias referências que os verdadeiros cinéfilos iriam certamente identificar, ficou-se à espera de algo mais do que o parco produto final que Burton nos entregou. 






Contudo, se visto por um público sem pretensões algumas e somente como obra de puro entretenimento, "Sleepy Hollow" como delírio visual devido à parte técnica e artística fabulosa, é atraente o suficiente para embarcarmos em pouco mais de hora e meia de puro escape cinematográfico.



Género: Mistério / Fantasia / Horror. 

Fotografia: Côr.

País: E.U.A.

Duração: 105 minutos.

Trailer: http://www.youtube.com/watch?v=R6O4Himch7g

Classificação: 7.5/10.

Reviewer: @ Nuno Traumas.

terça-feira, 30 de julho de 2013

Ed Wood (1994)

"Ed Wood" de Tim Burton com Johnny Depp, Martin Landau, Sarah Jessica Parker, Patricia Arquette, Jeffrey Jones, G.D.Spradlin, Vincent D'Onofrio, Mike Starr, Max Casella, Brent Hinkley, Lisa Marie, George "The Animal" Steele, Juliet Landau, Leonard Termo, Norman Alden, Ned Bellamy & Bill Murray.

Edward D.Wood Jr. (Johnny Depp) é um ávido cineasta que busca a oportunidade de singrar na meca do cinema realizando o seu "Citizen Kane" dos filmes de terror. Disposto a tudo e com a ajuda da sua companheira, a jovem actriz Dolores Fuller (Sarah Jessica Parker) desenvolve um guião chamado "Glen or Glenda" adaptando a verdadeira história de Christine Jorgensen, o pioneiro na mudança de sexo, para um mal-afamado Estúdio, baseando-se no seu próprio fetiche de usar roupa interior feminina e camisolas de angorá. Apesar da experiência não correr bem, Ed Wood não desiste e depois de encontrar numa agência funerária o lendário interprete do Conde Drácula e o seu grande ídolo pessoal, Bela Lugosi (Martin Landau) agora um velho decrépito sobrevivendo à custa do vício de morfina e actualmente na falência, convence-o a embarcar na sua próxima aventura cinematográfica que se chamará "Bride of the Atom". 




Não tendo o apoio de nenhum Estúdio, Ed Wood resolve conseguir o financiamento por conta própria e juntamente com o seu excêntrico grupo de amigos, incluindo o homossexual Bunny Breckinridge (Bill Murray); o anfitrião-adivinho Criswell (Jeffrey Jones); o lutador de Wrestling sueco Tor Johnson (George "The Animal" Steele) e a célebre Vampira (Lisa Marie) irão até ao limite para conseguirem reunir o dinheiro necessário...



Johnny Depp como Edward D.Wood Jr.

Filme biográfico numa adaptação livre da vida do peculiar realizador-de-culto Edward D.Wood Jr. considerado o "pior realizador de todos os tempos" (citação discutível), dirigido pelo excêntrico Tim Burton para a Touchstone Pictures da Disney, depois da original Columbia Pictures ter desistido do filme perante a insistência do realizador de o filmar em preto e branco.






Escrito por Scott Alexander e Larry Karaszewski baseado no livro de Rudolph Grey "Nightmare of Ecstasy", quando ambos eram estudantes de cinema e fartos de serem somente chamados como guionistas de comédias para a família como "Problem Child" ('90) e a sua sequela, 





fizeram o argumento chegar às mãos do realizador Michael Lehmann cuja comédia negra "Heathers" ('88) eram grandes fãs. 









Jeffrey Jones como Criswell

Um Lehmann entusiasmado, contactou a produtora de "Heathers", Denise Di Novi, colaboradora de Tim Burton em "Edward Scissorhands" ('90); "Batman Returns" ('92) e "A Nightmare Before Christmas" ('93) chamando a atenção do menino-prodígio e grande admirador de Ed Wood para o projecto. 





Com atrasos na pré-produção, Lehmann acabou por deixar o filme para dirigir "Airheads" ('94) e Burton tomou, para além de produtor, as rédeas da direcção. 








"Ed Wood" é assim o seu primeiro filme "normal", que ao não entrar no exagero dos visuais e da encenação em "comic book style" caracteristíco das anteriores obras de Burton, conta-nos a história real em modo trágico- cómico do infame realizador, 






dando o desenvolvimento necessário aos personagens e as doses certas de equilíbrio entre o realismo do filme-biográfico e o mais extrovertido lado da comédia negra, ao mesmo tempo que homenageia de modo sincero e sentimentalão o cinema de horror série-B clássico da década de 50. 






É notório a nível do argumento e direcção que todos os envolvidos nutrem paixão e respeito pela visão do malogrado Edward D.Wood Jr., fazendo um filme de reconhecimento ao malfadado autor, em vez da esperada paródia devido ao seu género de cinema. 






Todas as facetas da personalidade de Ed Wood desde a perseverança; o ímpeto de continuar perante todas as adversidades; a auto-confiança e o entusiasmo exacerbado de fazer cinema com os meios que tinha independentemente da qualidade do mesmo, 




Sarah Jessica Parker como Dolores Fuller

bem com a exploração do seu lado mais íntimo repleto de fétiches femininos devido a um trauma de infância, é magnificamente posto na tela pela direcção de Burton e o extraordinário trabalho de Johnny Depp, aqui na sua segunda colaboração com o realizador, na pele do excêntrico aficionado pelas camisolas de angorá. 




Baseando-se no realizador "kitsch" que o dirigiu em "Cry Baby" ('90), John Waters, o responsável pela introdução de Depp no mundo fantástico das criações de Edward D.Wood Jr., bem como na performance de Jack Haley como o Homem-de-Lata no "The Wizard of Oz" ('89); 





no locutor de rádio e responsável pela voz de "Scooby Doo" no cartoon homónimo, Casey Kasem e no ex-actor tornado Presidente dos E.U.A. nos anos 80, Ronald Reagan, Depp construiu o optimismo cego e o tom de voz cativante e jovial de um bom vendedor, essencial para a credibilização do seu personagem. 







Ao seu lado, Martin Landau tem o papel da sua carreira ao dar vida ao lendário actor húngaro, Bela Lugosi. Nunca caindo na armadilha do exagero caricatural, Landau interpreta de modo digno e no tom certo, os últimos tempos da vida do actor numa performance duplamente cómica e comovente, 




Martin Landau como Bela Lugosi

temperada nas doses certas e recheada dos trejeitos teatrais característicos que tornaram o seu desempenho algo de memorável e que justamente recebeu o Oscar de Melhor Actor Secundário em '95. 








Todas as cenas de interacção entre Johnny Depp / Ed Wood e Martin Landau / Bela Lugosi denotando o respeito e admiração do principiante pelo seu ídolo, reflectem a experiência do próprio Burton com o malogrado Vincent Price, entretanto falecido, com o qual teve a honra de o dirigir numa das suas primeiras curtas-metragens, "Vincent" ('82) e no já citado "Edward Scissorhands".



Bill Murray como Bunny Breckinridge

Bill Murray no curto, mas hilariante papel como Bunny Breckinridge e o cameo de Vincent D'Onofrio como Orson Welles destacam-se na parte do elenco secundário que conta ainda com a companheira de Burton na altura, Lisa Marie como Maila Nurmi, a Vampira; 





Patricia Arquette como Kathy Wood

Sarah Jessica Parker e Patricia Arquette desempenhando respectivamente, as duas mulheres da vida de Ed Wood, Dolores Fuller, que após largar Ed Wood se tornou numa famosa compositora musical, compondo "hits" para entre outros, Elvis Presley




George "The Animal" Steele como Tor Johnson

e Kathy Wood, que casou com o realizador mantendo-se a seu lado até à prematura morte de Ed Wood aos 54 anos vítima de ataque cardíaco; o wrestler George "The Animal" Steele quase um duplicado do Tor Johnson que interpreta







e ainda Jeffrey Jones já dirigido por Burton em "Beetlejuice" ('88) que dá vida ao anfitrião adivinho-charlatão Criswell que desenvolve uma amizade especial pelo visionário realizador do série-B entrando para a sua "entourage".







Artisticamente, "Ed Wood" projecta-nos como se embarcássemos numa máquina do tempo para uma Hollywood dos anos 50, substituindo a parte do glamour aparente pelo lado mais sórdido e decadente que se move nas traseiras do cinema legítimo, 




Lisa Marie como Maila Nurmi / Vampira




mas com o rigor devido na reconstituição da época a nível de cenários, guarda-roupa e penteados, bem como no grande trabalho de cinematografia em preto e branco de Stefan Czapsky. 











A equipa do fabuloso Rick Baker foram galardoados com Oscares para a Melhor Caracterização especialmente pelo trabalho de transformação de Martin Landau no sinistro Bela Lugosi. 








A trilha sonora de Howard Shore, que sucede ao usual Danny Elfman com quem Burton teve diferenças criativas no filme anterior, terminando assim a parceria, é perfeita e envolve-nos por completo no espirituoso do série-B de ficção científica e horror onde discos-voadores que não passam de dois pratos colados entre si sobrevoam Hollywood; 







extraterrestres liderados por um efeminado que ressuscitam mortos e lutadores de wrestling gigantes que abanam o cenários por não caberem nos mesmos.








Em suma, "Ed Wood" é a obra mais pessoal da carreira de Tim Burton e provavelmente o seu melhor e mais inspirado filme, com o realizador a provar em pleno não necessitar de recorrer à magnitude do lado visual ou do "estilo sobre a substância" para disfarçar a ausência de um guião competente e uma boa direcção de actores, pois esta sua sétima longa-metragem sai-se vencedora em todos os campos. 







A obra de Ed Wood que ficou para a história do cinema



A título de curiosidade e apesar de ser dos filmes com melhores críticas da sua carreira, "Ed Wood" foi um fracasso comercial no ano de estreia, só encontrando o sucesso mais tarde em vídeo onde foi reconhecido e tornado filme-de-culto. 










Como a biografia de um infame realizador "aclamado" pela crítica do mundo inteiro como o "pior realizador de sempre" dá origem a um filme fascinante, interessante e um delírio de se seguir é por certo devido à mestria do seu realizador e com "Ed Wood", Tim Burton atingiu o zénite.


Género: Biografia / Comédia / Drama. 

Fotografia: Preto e Branco.

País: E.U.A.

Duração: 127 minutos.

Trailer: http://www.youtube.com/watch?v=CawVaHxWvnA

Classificação: 10/10.

Reviewer: @ Nuno Traumas.

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